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Bahige Fadel

Risco na vida – Artigo de Bahige Fadel

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RISCO NA VIDA

Está muito arriscado viver atualmente. Em todo mundo, mas no Brasil, principalmente. No campo, na cidade. O risco é permanente. Vejam a questão das vacinas contra a COVID-19. Se não toma a vacina, corre o risco; se toma, corre o risco. Pra me imunizar, tomei a quarta dose. Nos dois dias seguintes, pensei que ia morrer. Caramba! Será que não conseguem inventar uma vacina que não nocauteie o cidadão? Acho que é por isso que tantas pessoas não quiseram tomar a terceira e quarta doses. Devem ter pensado: Essa nova cepa é como uma gripe forte, então não vou tomar. Dizem que, tomando a vacina, a gente fica pior do que se tivesse apanhado gripe. Não quero correr esse risco. Deve ter sido isso, né?

Não é fácil, amigo! Quer ver? A maioria sabe que sou aposentado. Trabalhei um quilômetro de anos no serviço público estadual, para ter direito a uma aposentadoria decente. Consegui. Afinal, cheguei a dirigente regional de ensino. E o que aconteceu depois? O que eu recebo hoje é inferior ao que eu recebia há cinco anos. Sim, é isso mesmo. Além de não ter recebido reposição salarial nesses anos, houve o confisco do governador. Imaginem se eu tivesse me comprometido financeiramente com base no que eu recebia antes. Estaria desesperado.

Aposentado do serviço público estadual, hoje, corre sérios riscos. Ninguém sabe do que o governo é capaz. A gente sabe que coisa boa não vem. Então, a gente resolve não correr muitos riscos. Já bastam os aumentos dos preços dos remédios, por exemplo. Sim, porque o que aposentado mais consome é remédio. Mas governo que confisca parte do salário de aposentados não deve saber disso. Arriscado!

Querem ver outra coisa muito arriscada? Votar. Ou não votar. É aquela história antiga: se correr o bicho pega; se não correr o bicho come. Votar é arriscado. Não votar é arriscado. Vou dar um exemplo que deve ter ocorrido com várias pessoas. A gente vota num candidato a deputado para quê? Para defender os nossos interesses, claro. E deve fazer isso com honestidade e competência. Nos casos cruciais, o candidato eleito – agora deputado – o que deve fazer? Consultar seu eleitorado. E é isso que ele faz? Chééé! – como exclamava aquele meu amigo de Pardinho.

O deputado, ao invés de votar de acordo com os interesses – justos – de seu eleitorado, vota de acordo com os interesses – egocêntricos – de seu governador. Se você vota nesse candidato é um risco de ser prejudicado; se não vota, é também um risco, que pode ser até pior.

O certo é que a gente vive se arriscando. E na maioria das vezes, sem conserto. Se tem fé, reza; se não tem fé, torce para que o pior não aconteça. Vai que um dia você ganha na loteria. É um risco. É só jogar. Vai que o deus da jogatina fica com pena da gente. Meu deus da jogatina, sou aposentado, vivo no Brasil, no estado de São Paulo, por favor, olhe por mim. Pra piorar, sou são-paulino. Não está fácil!
BAHIGE FADEL

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Bahige Fadel

DIFICULDADE – artigo de Bahige Fadel

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Há certos momentos em que as coisas começam a ficar difíceis. Os motivos podem ser vários. A idade, por exemplo. Com a idade, muitas coisas ficam difíceis. Eu me lembro do tempo em que eu subia no telhado da casa, para consertar umas telhas.

Não precisava fazer planos para isso. Era coisa simples. Agora? Nem pensar! Tenho feito planos para subir uma escada de cinco degraus. Antes, a gente ia a uma festa e ficava lá até de madrugada. E agora? Chééé! – como dizia um amigo meu. Se encosto a cabeça no travesseiro, já estou dormindo. Coisas da vida. Ou da idade.

Mas essas dificuldades são compreensíveis. Não me preocupam tanto. Para algumas coisas, é só tomar mais cuidado. Ou simplesmente abrir mão daquilo que já é um sacrifício fazer. Nesse caso, é ter consciência do momento. Com a idade, você pode fazer muitas coisas, mas não tudo que fazia na juventude, só que mais devagar. Então, é só não ter pressa. É a lentidão que a idade pede? Seja lento. Mas não deixe de fazer o que ainda é possível. Não se deve culpar a idade pela inatividade.

A inatividade é uma opção. Eu sempre opto por vencer os obstáculos. Pode não dar certo, mas é o propósito.
Outra dificuldade que vem com a idade é a audição. Ou a falta dela. Meus filhos e minha mulher ficam loucos da vida. Às vezes, fica chato perguntar de novo ou pedir para falar mais alto. Mas ainda não é uma dificuldade do tamanho de um bonde. Do tamanho de um bonde. Nossa! Essa expressão é do tempo de Matusalém. Aliás, eu dizia aos meus alunos que eu tinha sido professor do avô de Matusalém. A maioria não entendia, mas tudo bem.

Mas sabe qual é a dificuldade que mais me incomoda? É a dificuldade de acreditar em políticos. A maioria mente com a maior cara de pau. E nem passam óleo de peroba na casa. Mentem com a cara limpa. E nem ficam vermelhos, quando são apanhados na mentira. Para esses políticos, parece que a mentira é a regra.

A exceção é a verdade. Isso causa nojo. Recentemente, o governador de São Paulo enfrentou uma manifestação contra um de seus atos. E ele disse a verdade: Isso estava no meu plano de campanha. Se eu fui eleito, é porque a maioria concordou. As pessoas acharam estranho, só porque ele falou a verdade. Mas quando outros políticos mentem, e mentem, e mentem, ninguém contesta. Parece que as pessoas já esperam pela mentira. A verdade é que é inesperada.

Só que, com a idade, fui perdendo a paciência para aceitar certas coisas. Antes, eu me rebelava, repicava tambores, rodava a baiana. Hoje sinto um cansaço incômodo, pesado. Procuro me afastar.

Penso em desprezar tudo isso, mas depois me lembro de que tenho filhos e netos, que sofrerão mais do que eu por causa dessas mentiras. E fico intranquilo. E o mais difícil é que, atualmente, para se fazer uma crítica a essas coisas que pipocam por aí, você tem que medir as palavras. Certas críticas são consideradas crimes de lesa-pátria. A mentira pode; a crítica não pode. Difícil aceitar, né?

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Bahige Fadel

DESCOBERTAS, artigo de Bahige Fadel

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DESCOBERTAS

Há um ditado popular sobre o qual estive pensando nesses dias: ‘O tempo é o senhor da razão’. Quando eu era jovem -isso já faz muito tempo – eram os velhos que a falavam. E a gente não dava bola para o que eles diziam. Parecia não ter sentido. Coisa de velhos, a gente pensava. Os velhos acham que sabem mais do que a gente, continuávamos pensando.

Mas a gente envelhece – feliz ou infelizmente – e começa a mudar de opinião sobre certas coisas. Uma delas é essa: o significado dessa frase. E começamos a perceber que ela faz sentido, embora não seja uma verdade absoluta. É que  alguns velhos, com o tempo, só ganharam rugas e dores, nada mais. Continuam incapazes de mudar.   Que mudar significa fraqueza, não sabedoria.

Lembro-me de um tempo em que algumas pessoas estufavam o peito e diziam, como se fosse uma grande virtude: Tenho personalidade, não mudo de opinião. Querem coisa mais ridícula do que isso? Onde é que mudar de opinião é falta de personalidade? Você tem que ter muita personalidade e humildade para mudar de opinião, quando encontrar uma opinião melhor. E isso eu vi com o tempo. Não tenho a mínima dificuldade de mudar de opinião, desde que descubra opiniões melhores do que as que eu defendia.

Por exemplo, com o tempo, descobri que determinadas lutas não valem a pena. Lutas que não mudam nada. Lutas com derrota programada. Lutas com desilusões claras. Quer ver? De que adianta lutar contra esse cara que diz não mudar de opinião, por ter personalidade? Qual será o resultado dessa luta? Decepção. Você se desgastará e o adversário continuará pensando da mesma maneira. Com o tempo, a gente começa a selecionar melhor as lutas. Começa a escolher as lutas que é capaz de vencer. Vencendo, haverá alguma melhoria para você e para o mundo. Caso contrário, é melhor deixar tudo como está. E você reserva energias para objetivos mais importantes.
O tempo me ensinou que o ódio não cria nada de bom. É plenamente dispensável. Deve ser evitado. O ódio não causa bem a ninguém. Nem a quem odeia nem a quem é odiado.  Eu me lembro de que, quando estava na faculdade, escrevi um texto que tinha estas frases: ‘O ódio é pesado, o amor é leve. Para que carregar peso?’. Isso não foi o tempo que me ensinou. Aprendi ainda cedo. E a gente vê tanta gente pregando o ódio como solução. O ódio é doença, não remédio.  O ódio é ferida, não cura. E a gente vê tanta gente que sente prazer em odiar. E não estou falando em ódio político, esse disfarçado de bem, de solidariedade…  Desse ódio nem vale a pena falar. Muitos já se incumbem disso.

O tempo me ensinou muitas coisas. Uma delas é que eu preciso cuidar de mim, para poder cuidar dos outros. Não adianta eu querer cuidar dos outros, se eu mesmo não estou bem. A coisa funciona como no avião. A funcionária explica que, em caso de problema, descerão máscaras de oxigênio. Primeiro, a gente coloca a máscara e depois coloca na criança que está ao nosso lado. É que você precisa estar bem, para poder melhorar outras pessoas. Você só poderá melhorar o mundo, se conseguir melhorar a si mesmo.

Outra descoberta é que os amigos são poucos. Na juventude, a gente acha que tem dezenas de amigos. Bobagem. Ser companheiro de cerveja não é ser amigo. Mas isso não é um mal. Muitas vezes, nem as pessoas da família são suas amigas. Você precisa de pouca gente para ser feliz. Em primeiro lugar, deve ser amigo de si próprio. Devemos gostar do que somos. Devemos nos sentir bem com o que somos.

Devemos nos cuidar, para que estejamos bem. Isso é fundamental. Depois, cuidar das pessoas que dependem de você. As pessoas que convivem com você devem estar bem. Depois, dar muita atenção e carinho para as pessoas que procuram deixá-lo melhor. Essas pessoas gostam de você. Essas pessoas são suas amigas. Já contou quantas pessoas são assim?

BAHIGE FADEL

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Bahige Fadel

COMO AGIR – artigo de Bahige Fadel

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Amigo, você já pensou em como tomou determinadas atitudes?

Você tende a agir por amor, por ódio, por desprezo ou para manter a rotina? Você tem agido com raiva ou com calma? Você tem paciência quando vai tomar determinada decisão ou age afoitamente, sem prever as consequências? Você tem agido por prazer ou por obrigação? Depois de agir, sente alívio, preocupação ou, simplesmente, calma pelo dever cumprido?

Por favor, note os discursos dos homens públicos. Preste bem atenção neles. As palavras são emitidas com raiva. Essas pessoas nem se preocupam em disfarçar a raiva que sentem. Parece que falam com uma metralhadora na mão. Falam com veneno nos lábios. Parece que não há mais adversários; há inimigos. E as palavras são para colocar esses inimigos fora de combate. Esses inimigos são indesejáveis e, por isso, devem ser abatidos. Os que discursam dessa maneira, o que sentem depois? Sentem paz? Improvável. Sentem satisfação? Só se forem sádicos. Sentem o prazer do dever cumprido? Mas que prazer? O de abater o inimigo? Só se acharem que estamos em plena guerra. Sentem orgulho? Orgulho? Quem pode sentir orgulho por ter destruído o próximo? Sentem alívio? Não pode ser. A gente se sente aliviado quando resolve um gran de problema, quando supera uma enorme dificuldade, quando se desfaz de uma insuportável dor. Não consigo imaginar um alivio por destruir o adversário, que é transformado em inimigo.

E aqueles que falam de amor com ódio no tom de voz e na forma de olhar? E os que falam de paz com uma arma (real ou imaginária) nas mãos? E os que falam em igualdade afastando os diferentes? E os que falam em solidariedade apontando para as feridas, sem procurar curá-las? E os que falam em recomeço insistindo nas mesmas fórmulas do passado, para que nada se mude? E os que falam em distribuir o alimento, espalhando tão somente a amarga esperança, que nunca se transforma em realidade? E os que falam em elevar o próximo elevando-se a si próprios?

Nesse contexto, como agir, então? Como esses citados nos parágrafos anteriores? Ou cruzar os braços, como se os problemas não nos pertencessem? Como ser útil para si mesmo e para o outro? Há muitas maneiras boas. Mas uma delas, com certeza, é falar apenas quando for para o bem. Nem tudo deve ser dito, mesmo que seja verdade. Por que dizer a um enfermo que ele morrerá logo, se se pode dizer a ele coisas que confortam, que lhe darão alívio no pouco tempo de vida que lhe resta? Outra maneira é desarmar as mãos, os pensamentos e os espíritos. Há muitas armas mortais no mundo. Não há necessidade das que possamos ter. As armas necessárias são as que edificam, não as que destroem.

Sei que tudo isso parece difícil. Pode ser. Mas há tanta coisa difícil que praticamos sem reclamar. O importante é que tenhamos propósitos edificantes. O importante é saber que se o vizinho estiver em paz, haverá silêncio na vizinhança e, assim, poderemos dormir melhor.

BAHIGE FADEL

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