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Franqueza, artigo de Bahige Fadel

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FRANQUEZA

Vamos ser francos, salvo algumas exceções, a vida nunca esteve muito fácil. Se a gente quer conquistar alguma coisa, tem que ralar. Foi assim antes; é assim agora. Ganhar o grande prêmio da loteria é para alguns, que a gente só ouviu falar. Conhecer mesmo, raramente. Receber uma vultosa herança, pra não ter que fazer nada o resto da vida parece ser coisa virtual, não real. A gente vê essas coisas em filmes de ficção ou em notícias de fatos que ocorrem na Terra do Nunca. Nunca em nossa casa ou vizinhança.

Comigo foi assim. Com você também deve ter sido desse jeito, caro leitor. Você se arrebenta num trabalho, num projeto, que pode ou não dar certo. Se não dá certo, sua fama de incompetente rola o mundo. ‘Eu já sabia…’

Todos já sabiam, menos você. ‘Eu bem que avisei aquele cara de que ele daria cabeçada.’ Todos avisaram, só que deve ter sido em outra língua, porque você nunca ouviu coisa alguma. E o pior é quanto aparece aquele iluminado: ‘Se ele tivesse me ouvido. Eu tenho experiência nesse caso.’ Quando aparece alguém oferecendo ajuda, você fica desconfiado. Será que é ajuda ou é interesse?

Mas se a coisa dá certo, raramente vem um elogio. Ainda bem que o advérbio é raramente, e não nunca. A gente tem que ser justo. A gente não está totalmente só e abandonado neste mundo. Mas como eu ia dizendo, se a coisa dá certo, vêm línguas de trapo inconformadas. ‘Mas que cara de sorte! Nasceu com aquilo voltado pra lua!’ Você planeja, analisa prós e contras, avalia, trabalha que nem escravo e consegue aquilo que projetou. Ótimo! A conclusão é ‘cara de sorte’. Sorte é o… Vamos deixar pra lá. Isso é pior que coice de mula. Melhor não enfrentar. Os danos serão terríveis. Desviar é a solução.

Pior de tudo é quando começa a ter a certeza de que algumas lutas ao longo de sua vida foram inúteis. Você cansou, feriu-se, arranjou alguns inimigos, e o resultado de tudo foi o fato de cansar-se, ferir-se e arranjar inimigos. O resto ficou tudo igual. Quer dizer: pra que serviram essas lutas? Pra não resolver coisa alguma. Pena que a gente perceba isso mais tarde, com a experiência, quando não tem jeito de consertar. Nem de concertar.

E quando esperam que você continue lutando ‘para resolver os problemas do mundo’? Caramba! Minhas forças mal são suficientes para lutar por mim e por minha família. Como eu dizia para meus alunos, no final de minha carreira: Agora é a vez de vocês. Bem ou mal, está aí o mundo. Cabe a vocês melhorá-lo. Eu posso não ter ajudado muito, mas fiz o máximo que pude. Dei o melhor de mim. Como eu dizia aos meus alunos – tenho saudade deles – ninguém é obrigado a ser o melhor aluno da classe, mas tem obrigação de ser o melhor que pode ser. Posso não ter sido o melhor naquilo que fiz, mas fui o melhor que pude ser.

Ah se todos dessem o máximo de si para coisas boas! O mundo seria bem melhor, com certeza.
BAHIGE FADEL

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Brasil

Duas visões sobre a jurisdição do STF, artigo de Ives Gandras Martins

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No XII Congresso de Direito Constitucional da FADISA (Faculdade de Direito de Santo André) realizado em 18 de outubro deste ano, palestramos, os desembargadores Valdir Florindo do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (2ª), Reis Friede do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, onde foi presidente, o Ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF, e eu.

A temática do evento foi “Ética e Liberdade, Liberdade com Ética”. O Ministro Luís Roberto Barroso e eu fomos os últimos a falar.

Embora o Ministro tenha abordado aspectos das oportunidades e riscos da evolução da inteligência artificial na Justiça e no mundo e eu, de meu lado, os fundamentos permanentes da ética, moral e liberdade, mais voltados ao direito natural, com sua evolução na História a partir da Filosofia, ambos apresentamos nossa interpretação da temática que, embora convergente em sua percepção é divergente em sua aplicação na realidade brasileira.

O eminente presidente da Suprema Corte entende que, apesar da aplicação do Direito por todo magistrado exigir permanente reflexão, como nem todas as situações judicializadas tem legislação pertinente regulatória, o juiz deve lastrear-se em princípios fundamentais albergados na Lei Suprema para dar solução adequada, o que, a seu ver, não é invadir as funções do Poder Legislativo, mas implementar, para a hipótese, o que está na Constituição. Assim, se o STF entender que, mesmo havendo legislação, aquela produção normativa do Congresso a respeito do princípio constitucional não é a mais adequada, pode atuar para oferecer a melhor exegese, por ser a instância máxima da interpretação jurídica.

Expus posição diversa. Por entender que, na Lei Suprema, há expressa disposição para que o Congresso zele por sua competência normativa (artigo 49, inciso XI) e que nem mesmo em ações diretas de inconstitucionalidade por omissão do Parlamento julgadas procedentes, pode o Pretório Excelso legislar (artigo 103, §2º), em nenhuma hipótese caberia ao STF dar uma solução legislativa à luz de princípios gerais.

É que os princípios gerais quando mais genéricos, permitem múltiplas interpretações, até mesmo conflitantes, como por exemplo o da “dignidade humana”, no qual tanto os defensores do aborto como os do direito do nascituro de ter a vida preservada desde a concepção, lastreiam-se, gerando, assim, a defesa de teses absolutamente opostas.

A Constituição portuguesa, para tais princípios de múltiplas acepções, expressamente admite que apenas prevalece a interpretação em lei dos representantes do povo, entendendo eu que tal princípio é implícito na Constituição brasileira, muitas vezes o silêncio parlamentar representando a vontade popular de que aquela matéria não seja naquele momento legislada.

À evidência, em palestra de quase uma hora de cada um de nós dois, diversos argumentos foram utilizados em hospedagem de nossas posições, sempre pelo prisma da ética e da liberdade.

Ao final, os dois fomos aplaudidos em pé pela plateia, elogiando os organizadores como podíamos na divergência manter elevado nível, segundo eles, de elegância e respeito, ao que disseram ser um verdadeiro confronto democrático de ideias.

Tenho pelo Ministro Luís Roberto Barroso particular admiração, desde que trabalhamos juntos na “Comissão de Notáveis” criada pelo presidente do Senado, José Sarney, para repensar o pacto federativo. Ofereci-lhe, ao final, meu livro “Uma Breve Teoria do Poder”, colocando a seguinte dedicatória: “Ao querido amigo e mestre Ministro Luís Roberto Barroso com afeto e admiração ofereço”. Ele, por sua vez, dedicou-me seu livro “Inteligência Artificial, Plataformas digitais e democracia”, com as seguintes palavras: “Para o estimado Professor Ives Gandra com a admiração de sempre e o renovador apreço“.

Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio -SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).

 

Os artigos não refletem, necessariamente, a opinião do Jornal Cidade Botucatu

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Botucatu

DIFÍCIL ENTENDER, artigo de Bahige Fadel

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Recentemente, ouvi uma notícia segundo a qual uma universidade federal do Maranhão havia contratado uma artista trans para apresentar a sua arte aos alunos. Sua apresentação foi uma dança erótica em que a referida artista trans mostrava suas partes íntimas, que, aliás, não deviam ser tão íntimas assim. E a artista deve ter feito um sucesso enorme, pois foi alegremente aplaudida. Quero deixar claro que ela foi paga por nós, que pagamos os nossos impostos.

A crônica não tem como objetivo discutir sobre sexo ou gênero, como preferem atualmente. Desejo falar sobre educação, sobre o processo de ensino e aprendizagem. Então, a pergunta que não quer calar é esta: O que a universidade ensinou e o que o aluno aprendeu, com essa apresentação artística? Notem que não estou colocando nada entre aspas, para que não pareça uma ironia do autor. Não quero ser irônico. Quero, apenas, dirimir dúvidas a respeito do processo de ensino e aprendizagem. já que meus longos anos na educação não foram suficientes para entender o que aconteceu, com o uso do meu dinheiro, nessa atividade.

Está certo. Podem dizer que o assunto era sexualidade ou gênero sexual. Até aí eu entendi. Agora, eu não consegui entender o que os alunos entenderam com o espetáculo apresentado pelo artista trans. Vamos lá: artisticamente, ele mostrou à plateia suas partes não tão íntimas. E o que isso ensina? O que isso mostra que os alunos ainda não conheciam? Um aluno universitário, em tese, já conhece esse tipo de espetáculo melhor que o professor. Na verdade, não ensinou nada. Apenas mostrou o que já havia sido visto. E não estou discutindo a qualidade da apresentação, pois não vi.

Isso me faz lembrar a época em que eu era diretor de escola. Numa festa cultural realidade pela escola que eu dirigia, uma turma apresentou uma dança moderna. As meninas dançaram direitinho. Quando fui cumprimentar a professora pela apresentação, perguntei-lhe como tinha sido o treinamento das alunas. Para minha surpresa, a professora me disse que não havia feito absolutamente nada. As meninas lhe disseram que desejavam dançar e a professora as inscreveu. Elas conheciam a dança, que era feita num programa de TV. Decepcionei-me. Era uma festa cultural. O mínimo que se podia desejar era um aprendizado artístico. Mas não houve nada. As meninas fizeram o que já sabiam fazer, independentemente da escola. Ou seja, a escola não teve participação alguma, a não ser ceder o espaço. Isso tem pouquíssimo valor para o processo de ensino e aprendizagem, pois ninguém aprendeu nada, nem a professora, que poderia ter feito uma pesquisa sobre aquele tipo de dança e explicado para seus alunos.

Voltemos ao espetáculo trans. Não tem alguma semelhança com a história que acabei de contar? Infelizmente, a tal universidade apoiou o professor responsável. Falou em diversidade cultural, em respeito às diferenças. Essas coisas aí que são ditas quando não há um argumento melhor. Na verdade, não passou de uma apresentação inútil ou quase inútil. Se houve alguma utilidade, foi a estupefação e a indignação que ocorreram.

Depois não entendem por que somos sempre os últimos nas avaliações internacionais de nossos alunos.

BAHIGE FADEL

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Brasil

UM BRASIL DEMOCRÁTICO E NÃO DE ESQUERDA, por Ives Gandras Martins

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As eleições municipais de 6 de outubro, com esmagadora vitória da democracia e dos postulantes do centro-direita e um fracasso da esquerda, principalmente da radical, merecem algumas considerações.

A primeira delas diz respeito ao Presidente Lula. Em seus dois mandatos anteriores, foi um presidente pragmático e não ideológico.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, talvez nosso melhor presidente depois da redemocratização, contou-me, certa vez, no meu escritório na presença de um comum amigo, George Legman, não me tendo pedido sigilo, que quando Lula liderava as pesquisas em 2002, atacando o sistema financeiro, o dólar chegou a 4 reais. Tanto o Ministro da Fazenda quanto o presidente do Banco Central sugeriram-lhe pedir um empréstimo ponte ao FMI para acalmar o mercado, que poderia até nem ser usado, pois os fundamentos da economia eram bons. Fernando Henrique, com seu prestígio, obteve o empréstimo com a garantia de que quem fosse eleito cumpriria o acordado. Ao chamar o candidato Lula, disse-l he que se obtivesse o empréstimo acalmaria o mercado e ele receberia o país economicamente estabilizado, caso contrário não haveria como segurar o pânico cambial. Teria Lula, pois, que mudar o discurso.

Lula não só mudou o discurso, como um de seus primeiros atos como presidente foi indicar Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco de Boston nos Estados Unidos, que foi quem mais entendia de economia em seu governo e deu-lhe estabilidade. De rigor, foi o verdadeiro Ministro da Economia de Lula.

O homem pragmático dos dois primeiros mandatos, tornou-se um ideológico do terceiro, dizendo que tinha orgulho de ser comunista e que colocou um comunista no STF. Hospedou as teses fracassadas em todo o mundo albergadas no “Foro de São Paulo” promovido pelo PT. A isto acrescentou sua amizade com ditadores, não condenando a fraude do sangrento autocrata da Venezuela, sugerindo que a Ucrânia gostaria da guerra e não queria a paz com a Rússia, paz esta que seria entregar a Rússia parte de seu território, além de sua amizade com os ditadores Putin e Xi Jiping da China e com a mais antiga ditadura da América, que é a de Cuba, sobre ainda apoiar o Irã , que provocou a chacina de 1.300 judeus através do grupo terrorista do Hamas e financiou os atentados do Hezbollah em Israel.

Por fim, afasta-se das nações democráticas ocidentais, para unir-se ao Sul Global sob o comando da ditadura chinesa.

O Brasil democrático reagiu contra esta linha totalitária, votando pela democracia equilibrada do centro-direita, em clara sinalização para uma vocação a favor da liberdade do povo e não da imposição governamental.

A segunda consideração foi a rejeição dos radicais de esquerda e de direita. O radicalismo perdeu espaço.

A terceira foi a não interferência da Justiça Eleitoral, como em 2022, em que veículos da mídia tradicional foram proibidos de veicular matérias a favor do ex-presidente, nas duas semanas que antecederam as eleições.

Os resultados desta eleição em que o partido do presidente obteve apenas 248 Municípios entre os 5.569 do Brasil, metade do que o partido do ex-presidente, que obteve 510 e menos que o do Chefe da Casa Civil do Governo de Tarcísio em São Paulo, que obteve 838, devem merecer reflexão do presidente Lula. O próprio partido do Governador conquistou muito mais Municípios que o partido do presidente.

A meu ver, ou ele volta a ser o pragmático dos dois primeiros mandatos, governando para o país e não para o PT, ou creio que os futuros resultados eleitorais serão ainda piores que os atuais.

Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Feco mercio -SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).

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