Está vendo a foto acima? Nossa! Faz tempo. Faz muito tempo. Foi no tempo em que ainda existia, em Botucatu, o Ginásio Diocesano. Foi no tempo em que os irmãos lassalistas ainda usavam batina, com aquela coisa estranha no pescoço. Os alunos, para brincarem, diziam que era babador. Veja, o Irmão Urbano, ao fundo. Esse irmão era o regente de minha classe. Naquele tempo, quando havia muitos irmãos, cada um era regente de uma classe. A minha era a quarta série ginasial dos alunos externos. Havia uma outra quarta série, que tinha os alunos internos. O ginásio Diocesano tinha internato. Coisa do passado. Pedagogicamente, o internato é prejudicial para a criança e o jovem.
A foto que você está vendo é de 1962. Foi minha formatura do curso ginasial. Para os que são mais jovens, seria a conclusão do ciclo dois do ensino fundamental. E para os que não são tão jovens assim, mas também não são tão velhos como eu, seria a conclusão do primeiro grau. Está vendo a importância que a gente dava para aquele momento? Eu estou de terno preto e gravata borboleta. Roupa de gala. E essa senhora que está de costas (que pena!) numa elegância do outro mundo é minha mãe. As mães subiam ao palco com os formandos. E olhe o meu rosto, num misto de timidez, orgulho e felicidade. Afinal de contas, estava terminando o curso ginasial. Era honraria para bem poucos, naquele tempo.
Mas o motivo desta crônica não é nada disso. O motivo principal desta crônica é o professor que está me cumprimentando. Foi meu paraninfo. É o professor Pedro Torres. Foi meu professor de matemática desde a primeira série do curso ginasial até a primeira série do curso científico. Depois, fui completar o científico no IECA. É por causa do professor Pedro Torres que estou escrevendo esta crônica. Há certas pessoas que não podem ser esquecidas. Devemos utilizar quaisquer meios para que elas sejam lembradas.
O professor Pedro Torres era uma pessoa extraordinária. Humano, bondoso, paciente, amável, compreensivo, calmo, agradável. Um monte de virtudes. Só conseguia olhar o lado bom das pessoas. Nunca se irritava, por maior que fosse o problema. Tinha sempre uma palavra de conforto para os que tinham algum problema e uma palavra de bom humor para todos. ‘Eta palmeirense de meia tigela!’ E dizia isso com um sorriso suave, como se quisesse dizer: ‘Eu me importo com você.’
Saudade do professor Pedro Torres, que hoje é nome de escola. Foi a ele que recorri quando precisei de alguém para me encaminhar para o magistério. Eu tinha terminado o primeiro ano do curso de letras e as finanças da família não estavam boas. Eu precisava dar aulas. Foi ele que pediu ao João Ribeiro, diretor do SENAC, que me admitisse como professor. Isso foi em 1968.
Continuo professor. Procuro fazer com que os alunos se orgulhem de mim, assim como eu me orgulho de ter sido aluno do professor Pedro Torres.