Bahige Fadel
Ué! Quer dizer que os conceitos, pelo menos para os governantes brasileiros, mudaram? Quer dizer que a velha máxima ‘façam o que eu mando, não façam o que eu faço’ voltou a vigorar? Quer dizer que aquele negócio de partir do exemplo para convencer quem deve ser convencido de algo não vale para os mandatários nacionais? Quer dizer que, em tempo de crise, quem sempre foi ferrado, indiscriminadamente, com crise ou sem crise, é que deve se ferrar? É isso mesmo ou entendi tudo errado? Tomara que eu tenha entendido tudo errado, que não é nada disso, que os chefões políticos estão dando bons, perdão, excelentes exemplos para nós, simples mortais, de como se deve ser austero, de como se deve ser comedido com o dinheiro público, de como se deve economizar para superar a turbulência por que passamos. Tomara. Não é o que parece, mas, como já disse, tomara que eu esteja errado.
É isso. Ao terminar este ano, terei completado cinquenta anos como educador. E nesses anos todos, sempre defendi uma tese: O professor ensina muito mais pelo exemplo que dá do que pelo conteúdo que transmite. Muita gente não concorda, mas é a pura verdade. E isso vale para todas as pessoas. O exemplo que damos vale para todos os nossos alunos, indistintamente. Vale tanto para os da área de humanas como para os da área de exatas. O conteúdo, nem sempre. Embora preparar bem uma aula, ter boa didática, conhecer o conteúdo de sua disciplina sejam itens de bom exemplo. Não estará dando bom exemplo aos alunos o professor que não ministrar bem um conteúdo.
Mas essa tese, para alguns políticos (espero que seja apenas para alguns), não está valendo. Está valendo uma outra muito menos dignificante: ‘Eu quero é me locupletar e os outros é que se explodam. ’ Verdade! É o que a gente está vendo. Parece que, quanto mais a gente reza, mais sente o calor do fogo do inferno nos fundilhos. Impressionante. Está parecendo aquele problema de matemática, sem solução, que o professor de matemática exigia que a gente resolvesse, só para nos irritar. Não há outra explicação.
O que eu quero dizer com isso? Simples. O governo Temer – vice da Dilma, que, agora, está no poder (É bom deixar isso muito claro, porque há um pessoal aí que quer desvincular um do outro) – mandou para o Congresso aprovar um monte de projetos. Todos eles mexem no bolso da gente. Nenhum desses projetos aumenta os nossos salários ou facilita a nossa aposentadoria. Nenhum. A gente até entende o motivo: Como a situação econômica do país está mal das pernas, então vamos tirar do trabalhador e do aposentado um pouco, para desatolar o país. Eu entendo isso. Só não entendo que, numa situação dessas, o nosso presidente – que foi eleito na mesma chapa da Dilma, que foi cassada – numa viagem, quando estava, em trânsito, em Lisboa, esperando a hora de viajar para outro país, hospeda-se por algumas horas num hotel de luxo e gasta, do nosso cambaleante dinheirinho, a bagatela aproximada de R$ 50.000,00. Meu caro patrício, cinquenta mil reais do dinheiro do brasileiro, numa época de crise, para ficar algumas horas apenas num hotel de Lisboa? Esse é o exemplo que o senhor quer dar para a nação brasileira, que está sufocada de tanto apertar os cintos? Senhor presidente, nossa economia está anoréxica, mas o senhor, em apenas algumas horas, gasta essa dinheirama toda?! É assim que se diz para o povo que o dinheiro está curto e, por isso, temos que nos sacrificar? É assim? Pelo jeito, o seu conceito é ‘se o dinheiro é do povo, eu gasto mesmo’. É, tomara que o Janot tenha razão.
BAHIGE FADEL