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Artigo: COPO MEIO VAZIO, de Bahige Fadel

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Sei não, mas eu, que sempre fui um cara otimista, estou começando a enxergar o copo meio vazio. E isso não é bom. Tento me esforçar para ver o copo meio cheio, mas os fatos não ajudam. É uma coisa errada atrás da outra. As segundas intenções prevalecem. Principalmente na política, as coisas são obscuras. Não se vê clareza em nada. Então, como enxergar o copo meio cheio? Daqui a pouco é capaz de a gente não enxergar sequer o copo.

Explico. Esse programa anunciado pelo governo para baratear os veículos automotores. O governo diz que é para beneficiar o pobre, que, assim, vai conseguir comprar carro, caminhão e ônibus novos. Vamos começar pelos carros. Serão carros populares, segundo o governo. Carros que custam entre sessenta e cento e vinte mil reais. Ora, cara pálida. Pobre tem esse dinheiro para comprar esse tipo de carro? Claro que não. Então, o que vai acontecer? A classe média vai comprar esse tipo de carro e vai vender o seu carro velho para o pobre. Assim, uma das intenções do governo – reduzir a poluição – cai por terra, porque o carro velho e poluente continuará poluindo. Só que agora, nas mãos do pobre. E não fica só nisso. Aumentará o número de carros e, por consequência, o nível de poluição.

Por outro lado, o governo diz que a isenção de impostos será proporcional ao número de peças fabricadas no Brasil. Taí outra ponta solta. O governo parte do princípio de que o empresário usa mais peças fabricadas no exterior apenas por birra ou apenas porque gosta de comprar em outros países. Mas não é isso. O empresário compra peças no exterior porque ou são melhores ou são mais baratas ou as duas coisas. Então, a questão não é ferrar quem compra peças no exterior, mas dar um jeito de fazer com que as peças fabricadas no Brasil sejam mais competitivas. Caso contrário, não vai mudar nada.

Vamos agora aos caminhões e ônibus. O barateamento desses veículos só ocorrerá para aquele que trocar seu ônibus ou caminhão que tiver mais de vinte anos de uso. É que esses veículos velhos poluem demais, o que é verdade. Só que, ao ler essa notícia, me veio uma pergunta: Por que o cara usa um veículo com mais de vinte anos de uso? Porque gosta de carro velho? Porque gosta de poluir? Claro que não. Porque não tem dinheiro para comprar um veículo novo. E com o desconto proposto pelo governo, vai passar a ter? Acho que não. Assim, quem será beneficiado pelo programa do governo? O grande empresário, que tem veículos velhos já em desuso, que vai utilizar esse veículo para conseguir os descontos programados. Isso não diminuirá a poluição, porque o veículo velho já não é mais utilizado . E para agravar a situação, é capaz de vender esse veículo para um pequeno empresário, que continuará poluindo o ambiente.

O leitor deve estar perguntando: Não há solução? Deve haver. Não sou especialista, mas uma delas deve ser a criação de planos de aquisição mais convidativos, com baixos juros, tendo como contrapartida a obrigação de tirar de circulação os veículos antigos. Ou entregar para o governo esse veículo poluente, para que ele não continue poluindo o ambiente. Sei que isso pode parecer absurdo, mas, como disse, não sou especialista. Os especialistas devem ter soluções melhores. Só sei que a solução proposta pelo governo ajudará muito pouco o pobre e não impedirá o aumento da poluição ambiental.

Já que ainda existe o copo – esperança – seria bom a gente encontrar água para enchê-lo – medidas realmente eficazes.

BAHIGE FADEL

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