Conecte-se Conosco

Colunas

Baixa Terapia: não é o que parece

Publicado

em

Foi apresentado neste sábado, com casa (quase) cheia, o espetáculo Baixa Terapia, adaptação da obra argentina de Matias Del Federico e Daniel Veronese. A versão tupiniquim tem por diretor Marco Antônio Pâmio, tradução de Clarisse Abujamra e os atores Antônio Fagundes, Mara Carvalho, Bruno Fagundes, Alexandra Martins, Fábio Espósito e Ilana Kaplan, vencedora do Prêmio Shell por sua atuação nesta peça.

Três casais, que não se conhecem entre si, chegam em um consultório para uma sessão de terapia de casal. Ao chegarem na sala, descobrem que esta sessão será em grupo e que a psicóloga não estará presente, cabendo aos próprios pacientes o desenvolvimento da consulta. Para isso a profissional deixou vários envelopes, a fim de orientar as discussões da sessão. Além disso, deixa um pequeno bar, farto de uísque, que será um fator determinante no decorrer da trama. Os casais são formados por Ariel (Antonio Fagundes) e Paula (Mara Carvalho), Estevão (Bruno Fagundes) e Tamara (Alexandra Martins) e Roberto (Fábio Espósito) e Andrea (Ilana Kaplan).

O objetivo da consulta é que eles mesmos, ao discutirem e trocarem experiências, consigam resolver seus próprios problemas. A partir daí são mostradas revelações, suspeitas, confissões, queixas, verdades e mentiras – algumas bem sérias – de maneira esculhambada e escrachada. Cada casal tem problemas diferentes mas, ainda assim, com uma fonte em comum. As discussões dos casais chegam a momentos de descontrole em determinados pontos, mas sempre são atenuadas em algum momento.

Ariel e Paula são cinqüentões que, com tantos anos de casados, nem se lembram mais dos tempos apaixonados. Já Roberto e Andrea sofrem abalos recentes em seu relacionamento. Os jovens Estevão – Tevinho, para os íntimos – e Tamara passam por inseguranças devidas a relacionamentos passados. Nem todos estão dispostos a falarem sobre duas adversidades e vida íntima, mas cedo ou tarde acabam acatando a idéia da terapeuta. Nenhum ator “rouba a cena”, todo o elenco age em uníssono tal qual várias engrenagens de uma máquina.

Baixa Terapia é uma comédia que logo em seu início se mostra rápida e dinâmica, combinada com pausas impactantes em momentos dramáticos, momentos poucos comparados às situações de humor, mas mesmo assim decisivos e importantes para o andamento da peça. A peça a princípio não promete muito, parece uma comédia “de sala” simples. Mas não é.

A peça é composta por apenas uma cena, havendo poucos momentos para pararmos e refletirmos o que estamos assistindo. O final da peça é extraordinariamente chocante, certamente uma das maiores reviravoltas que o Teatro Municipal viu nesses últimos anos.

Os atores fizeram um bate-papo de aproximadamente 40 minutos de duração com a platéia após o final do espetáculo, conversando sobre o texto da peça, impressões dos atores e muito mais.

Antônio Fagundes e grande elenco, voltem sempre!

Continuar Lendo
Click to comment

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Colunas

INTOLERÂNCIA, artigo de Bahige Fadel

Publicado

em

INTOLERÂNCIA
Infelizmente, vivemos numa época de intolerância. De perigosa intolerância. De criminosa intolerância. O diálogo cedeu lugar para a intolerância. Para usar o verbo correto, melhor dizer que a intolerância expulsou o diálogo. Diálogo só se for com pensamentos iguais. Ninguém mais tolera pensamentos diferentes. Um pensamento diferente é motivo para agressões físicas e/ou morais. Um pensamento diferente é motivo para o fim de uma amizade.

Antigamente se dizia que gosto e religião não se discutem. E era algo muito lógico. Cada um tem determinado gosto para diversas coisas. E isso independe da lógica. É, simplesmente, gosto. Que lógica há em gostar do azul e não do vermelho? Nenhuma. Gosto é gosto. Simplesmente, a pessoa olha para o azul e sente prazer. O que não acontece quando olha para o vermelho. A religião é uma escolha individual. Uma pessoa escolhe a religião católica. Outra escolhe a protestante. Outra, ainda, não escolhe religião alguma. Discutir o quê? Existe alguma lógica em ser inimigo de uma pessoa só por ter escolhido uma religião diferente da minha? Nenhuma.

E essa intolerância gera outros sentimentos e ações indesejáveis. O intolerante odeia o diferente. Odeia aquilo que não representa a sua ideia. O intolerante despreza o diferente. Ele ofende e agride qualquer diferença. Ele não argumenta, não explica, não avalia. Ele simplesmente agride. Com isso, ele não tem amigos. Tem cúmplices. Tem companheiros de gangue. Sim, não se formam grupos de amigos, mas gangues com planos de dificultar a vida de outras gangues.

Já assistiu a alguma reunião do Congresso Nacional? Não se discutem ideias com argumentos e avaliações. Agride-se. Ofende-se. Gritam-se palavras, como se o volume da voz significasse a verdade.

E essa intolerância ocorre em todos os níveis sociais, em todas as idades. Desconfio que até nas famílias essa intolerância é uma constante.
E como acabar com tudo isso? Muito difícil. Em primeiro lugar, só é possível acabar com a intolerância quando houver vontade individual e vontade coletiva. A partir dessa vontade, desse desejo, começam as ações. A primeira ação é a aceitação do que é diferente. Se você é liberal, não precisa concordar com o comunista, mas precisa aceitar que ele tenha as ideias dele. Pode argumentar com ele, para mostrar que suas ideias são melhores, mas não pode exigir que ele tenha as suas ideias liberais. Ele pode fazer o mesmo com você. E mesmo que ninguém consiga mudar a ideia do outro, não precisam ser inimigos.

Outro aspecto é o egocentrismo. As pessoas estão se tornando cada vez mais egocêntricas. Só conseguem olhar para seu próprio umbigo. Esse egocentrismo gera a sensação de superioridade. Se você só consegue olhar para si mesmo, começa a achar-se o melhor de todos. Se se acha o melhor de todos, para que ouvir os inferiores? É preciso, portanto, aprender a ver os outros. A perceber o que os outros têm de bom e aprender com as virtudes deles.

Não queria citar a mídia, mas é inevitável. A mídia tem que ajudar. Deixar de valorizar os grandes males e dar espaço para as grandes virtudes é um bom começo.

É difícil, mas é preciso ter paciência e vontade de criar um mundo melhor. Isso só se consegue com pessoas melhores.
BAHIGE FADEL

Continuar Lendo

Colunas

CÍRCULO VICIOSO, artigo de Bahige Fadel

Publicado

em

CÍRCULO VICIOSO
Este é o título do soneto abaixo, de autoria do insuperável Machado de Assis.
” Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
— “Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!”
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

— “Pudesse eu copiar o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!”
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

— “Mísera! tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume!”
Mas o sol, inclinando a rútila capela:

— “Pesa-me esta brilhante auréola de nume…
Enfara-me esta azul e desmedida umbela…
Por que não nasci eu um simples vaga-lume?”

Embora não fosse seu gênero predileto, Machado de Assis publicou quatro livros de poesias. Neste soneto, em particular, ele revela seu pessimismo na observação do comportamento humano. Esse pessimismo está em várias obras. É famosa a reflexão final do livro MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, no capítulo DAS NEGATIVAS. Ele – Brás Cubas – conclui que no saldo de sua vida houve uma pequena sobra. E diz: ‘Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria’. Triste, né? Para ele, todos nós somos miseráveis. O fato de não ter tido filhos é positivo, pois não aumentou o número de miseráveis do mundo.

Mas voltando ao soneto, vê-se claramente um comportamento comum do ser humano. Estar insatisfeito. A eterna insatisfação das pessoas, que ficam contrariadas por não possuírem o que os outros possuem, mas dificilmente se alegram por terem o que os outros não têm.
É uma pena, mas é a mais pura verdade. O vaga-lume inveja a estrela, a estrela inveja a lua, a lua inveja o sol e o sol inveja o vaga-lume.

Quem é o mais feliz? Nenhum deles, pois ninguém está satisfeito com o que é e com o que tem. Cada um quer ser o outro. Seria tão diferente se o vaga-lume pensasse de maneira diferente: Que bom que tenho essa pequena luz, que ilumina meu caminho nas noites escuras! Ou se a estrela pensasse: Como, em companhia de minhas amigas, torno belo o céu e como sou querida por isso! Ou se a lua pensasse: Sou amada pelos apaixonados e, com as estrelas, formo um belo quadro de amor! Ou o sol: Eu dou vida ao mundo. Não há vida sem mim. Que orgulho!
Muitas vezes, brincando, a gente diz: Por que simplificar, se a gente pode complicar? Estou desconfiado de que não é só uma brincadeira. As pessoas gostam de complicar a vida.
BAHIGE FADEL

Continuar Lendo

Colunas

A FELICIDADE, artigo de Bahige Fadel

Publicado

em

 

Um dia, um conhecido resolveu ‘me ajudar’. Em tom professoral, me disse: Você precisa aprender a ser feliz. Caramba! Eu nem tinha percebido que precisava aprender a ser feliz. Ainda bem que esse conhecido apareceu, para me dar o caminho ou o atalho para a felicidade. Quase disse a esse conhecido que ele deveria publicar um livro sobre esse assunto. Afinal, há tantas pessoas infelizes no mundo. Infelizes de todas as idades, de todos os níveis sociais, de todas as profissões. Infelizes que procuram tratamento especializado e infelizes que resolvem ouvir conselhos de conhecidos e desconhecidos.

Resolvi dar corda para o cara. E o que eu preciso fazer ou saber para ser feliz? E o conhecido, sempre em tom professoral, desfilou sua receita de felicidade. E nessa receita havia uma variedade de coisas, desde roupas de grife até viagens internacionais, passando por restaurantes famosos e aventuras extraordinárias, tudo para sair da rotina. Se fizesse isso, felicidade na certa.

Ouvi o conhecido, demonstrando atenção. Percebi que ele se sentia realizado ao notar que eu estava atento ao conhecimento que ele transmitia. Não lhe fiz perguntas. Percebi que não adiantaria. Ele tinha certezas sobre o assunto. Ser feliz era seguir aquela receita. O resultado seria certo. Agradeci os conselhos e segui meu caminho, deixando o conhecido a saborear o sucesso que tivera comigo. Ele, com certeza, estava muito feliz com o que tinha feito. Engraçado que na receita dele não colocou que mostrar a receita da felicidade poderia deixar feliz o transmissor. Por certo, foi uma omissão.

Segui meu caminho pensando no assunto. Engraçado como existem pessoas que acham que sabem tudo. E fazem questão de transmitir para quem quer e para quem não quer seus ‘profundos conhecimentos’. Em primeiro lugar, quem disse a essa pessoa que eu preciso aprender a ser feliz? Algum especialista em felicidade? Não. Ele apenas resolveu que eu precisava aprender a ser feliz, mesmo não sabendo se eu sou feliz ou não. Isso implica dizer que o importante não era a minha felicidade, mas a felicidade dele.

Sinto pena daqueles que procuram receitas para a felicidade. É que não existem essas receitas. Cada um é feliz à sua maneira. Para se ser feliz, você precisa conhecer-se. Conhecendo-se, você sabe o que quer e o que pode ser ou fazer. Não adianta você colocar na cabeça que, para ser feliz, precisaria fazer uma viagem ao redor do mundo, se você não tem condições financeiras para tanto. Se fizer isso, você estará adubando a sua infelicidade. Não adianta botar na cabeça que sua felicidade está condicionada à realização de um cruzeiro marítimo, se você sente enjoo com as ondas do mar.

Usar roupa de marca não me faz feliz. Faz-me feliz colocar uma roupa confortável. Ir a um restaurante de luxo só me fará feliz, se a comida for muito boa e a companhia, melhor ainda. Beber um bom vinho me faz feliz. E não precisa ser aquele vinho caríssimo, só pra dizer aos outros que havia bebido um vinho de tantos reais a garrafa. Assistir a um bom filme me faz feliz. Preparar um almoço para pessoas queridas me faz muito feliz. Sair de mãos dadas com minha mulher me faz feliz. Ficar só me faz muito feliz. Muitas vezes, o silêncio me faz feliz. Sim, encontro a felicidade numa viagem. E não precisa ser um lugar muito distante. Basta que a companhia seja agradável. Fico feliz quando não sinto muitas dores. Convenhamos que não sentir dor, na minha idade, é um prêmio. Receber um elogio sincero me faz muito feliz também. Quer saber? Estou sentindo uma felicidade enorme agora, apenas por estar escrevendo este artigo.

BAHIGE FADEL

Continuar Lendo

Trending

Copyright © 2021 - Cidade Botucatu - desenvolvido por F5