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Coluna: DO SEXO À BEATITUDE – Uma releitura do Paraíso

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DO SEXO À BEATITUDE – Uma releitura do Paraíso

Por que o ser humano tem fixação pelo sexo? Por que o sexo é um TABU? Por que as religiões – em alguma medida, estão conectadas com ato sexual? Sexo como fim reprodutivo? Pelo prazer? Por que SEXO?

Antes de mergulharmos na questão propriamente dita, será necessário explorar outro conceito: o de PARAÍSO.

Não sei você leitor (a), mas eu DESCONHEÇO uma sociedade, tradição, cultura ou religião, que NÃO tenha uma ideia, formulação, entendimento e/ou modelo de paraíso. Todas levam em seu arcabouço a concepção do “Jardim do Éden” que, por sua vez está intrinsecamente relacionado com felicidade, paz, bem-aventurança, etc..

Quer exemplos?

No Japão os Xintoístas falam do Takamagahara. Para os egípcios o melhor lugar de se viver é o Aaru. Nas religiões afro-brasileiras (como o candomblé e a umbanda) existe a Aruanda. Os chineses anseiam por um chá da tarde no Palácio de Jade. As narrativas judaico-cristãs falam que Deus expulsou Adão e Eva do Paraíso. Islâmicos morrem (no sentido literal) por um cantinho em Jannah.

Você não acha curioso? Povos que estão distantes geograficamente uns dos outros e, contudo, terem idealização semelhantes de “lugar perfeito”. Claro! Cada cultura projeta um céu que mais lhe apetece, que mais lhe agrada. Os muçulmanos habitam regiões muito quentes e secas no globo terrestre, logo descrevem que o paraíso é fresco, com sombras revigorantes, onde o clima é agradável e brando. Quanto mais a pessoa é submissa a Deus, mais recompensas terá. Água pura à vontade, muitos rios, um mar de leite e outro de mel e também muitas Húris (virgens celestiais) criadas para serem subordinadas aos maridos que, por sua vez foram subordinados a Deus enquanto estavam na terra. Lembrei de uma citação de Paulo Freire (educador e filósofo brasileiro do século XX).

“O sonho do oprimido é ser opressor”

Enfim, poderia dar inúmeros exemplos das diversas peculiaridades que cada cultura imagina sobre os lugares divinos. Poderíamos problematizar acerca das convenções morais, promessas de salvação ou ainda, vincular essa nostalgia que todos nós, cedo ou tarde sentimos com as doutrinas reencarnacionistas. Isto é, que a melancolia tem a ver com as vidas anteriores, com as possíveis colônias espirituais, planetas e até constelações em que já transitamos ou que fomos exilados. Uma sensação de não fazermos parte da loucura que é a vida, como se fôssemos um estrangeiro aqui – igual ao livro de Albert Camus (escritor e filósofo do século XX). Sentimos saudades de algum lugar que não sabemos bem onde é – talvez um paraíso perdido, quem sabe?

Mas o objetivo não é esse. Não pretendo avaliar o que é certo ou errado, se existe tal coisa ou não e assim por diante. Gostaria somente de apresentar um viés de relação entre as raízes do sexo com a ideia de paraíso, e ninguém melhor do que Sigmund Freud (médico austríaco criador da psicanálise, 1856-1939) para as reflexões sobre a libido e o inconsciente.

Bom, antes de tudo eu não duvido da hipótese de que Freud era meio “louco”. Porém, reconheço que muitas das suas loucuras eram geniais. A grosso modo, os psicanalistas afirmam: “Somos mecanismos complexos e determinados por processos inconscientes”. Ou seja, na maioria das vezes não percebemos o que está acontecendo ou o motivo verdadeiro pelo qual estamos agindo. Eles são reflexos automáticos e provenientes de recalque, repressões, traumas, etc… E por que chegamos nesse assunto? Basicamente, para desvendar a fixação do ato sexual. Enquanto um bebê se desenvolve no útero materno, ele está vivendo no paraíso. A temperatura é perfeita, os barulhos são sutis e ritmados, não existe fome e nem sede. Não lhe falta nada! Não há desejos e consequentemente não temos frustrações. Éramos felizes. Inclusive Aristóteles (filósofo grego, 384 a.C-322 a.C) define a autossuficiência como “Sendo aquilo que, em si mesmo, torna a vida desejável e carente DE NADA” e chama a isso de Felicidade… Experimentamos o “gozo” do Éden por meses: relaxados, satisfeitos e depois expulsos. Meu filho, Bento Macedo Tavernaro foi arrancado do paraíso. Eu estava lá. Vi tudo! O nascimento é traumático. De repente, tiram você de dentro do aconchego: luzes ofuscantes, quarto frio, gente conversando alto, choro e um final dramático: o rompimento do cordão umbilical. Alguém dá um tapa em você obrigando-o a respirar. Um ser que vivia em êxtase, que nunca precisou fazer nada, agora está por conta própria, à mercê da sorte e do esforço.

Talvez por isso, a nossa busca por conforto e também o medo de perde-lo novamente: ar-condicionado, aquecedores, hotéis cinco estrelas, colchão d’água… Tudo para criar artificialmente o espaço uterino. A lembrança está gravada no inconsciente e ele grita para voltar. Uma memória irreversível. A mãe, para a criança é a mulher perfeita e o útero, o solo prometido. Mudaremos de casa, de trabalho, de parceiros(as), trocaremos os moveis de lugar ou compraremos móveis novos. Contudo, jamais voltaremos para o lar.

Consegue perceber onde está a relação com o sexo? O coito é simbólico… Basta analisar com calma. Os amantes querem estar perto fisicamente um do outro. Na verdade, gostaríamos de ficar dentro da pessoa (não no sentido vulgar, por favor). É NATURAL! Tudo começa no útero da mãe e termina no “ventre” da terra – o maior símbolo de amor que existe – É a busca eterna pelo paraíso perdido e o motivo de nunca estarmos satisfeitos.

A obsessão por transar é o desejo mais profundo de voltar para o início, à origem. O elo, o ÚTERO. E questões como: identidade de gênero, orientação sexual e outras terminologias, são irrelevantes, pois o fator em jogo não é a outra pessoa ser ativa ou passiva, binária ou não-binária, monogâmica ou poligâmica… Mas sim, a intenção de “relacionar-se” em todos os seus aspectos e manifestações, incluindo o sexo. Éramos unidos com nossas mães e nos separaram. A religi]ao é a demonstração mais óbvia de religar – tanto é que a palavra em si no latim, quer dizer “religare”. Uma tentativa espiritual de nos unir com duas artérias e uma veia, ou seja: o cordão umbilical “divino”.

Nessa perspectiva, encorajo-me a dizer: Todo ser humano nasce clinicamente neurótico em busca de sexo e de beatitude.

Ismael Tavernaro Filho, é escritor e estudante de Filosofia

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MEUS MEDOS, artigo de Bahige Fadel

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MEUS MEDOS

Eu, como a maioria das pessoas, sempre tive meus medos. Desde criança até agora. Medos pequenos, medos maiores. Pequeno, na viagem ao Brasil, o medo do mar. Aquelas ondas gigantes, aquela agitação do navio, os enjoos. Dias e dias a fio só vendo água e tendo enjoos. E eu tinha apenas cinco anos. Meu Deus! Quando isso vai acabar? Mas acabou. Sobrevivi.

No Brasil, o medo do novo e do estranho. Tudo era novo e estranho. A língua. Como iria aprender aquela língua estranha? Somente algumas palavras parecidas, nada mais. Arroz, açúcar. Mais tarde, fiquei sabendo que o português tem várias palavras árabes. No entanto, foi mais fácil do que imaginava. Os novos amigos brasileiros ajudaram muito. Superei.

Depois, o medo da cidade grande. De Pardinho, vim para Botucatu. Na minha visão de menino de onze anos, cidade gigantesca. E sem a presença dos pais. Nas tinha que vir para estudar. Meu pai dizia que não tinha vindo ao Brasil para ter filho burro. O medo era quase insuportável, amenizado pela presença de meu irmão de treze anos de idade. Nessa época, vivi os maiores medos de minha vida. Sobrevivi.

Logo depois o medos das incertezas do futuro. O que fazer para superar as dificuldades financeiras da família? Meu medo talvez fosse menor que o medo de meus pais, apenas. Medo de tomar a decisão errada. Medo de não superar a dificuldade. É barra, amigo! E eu era apenas um adolescente. Tornar-me radialista ajudou muito em minhas decisões. Descobri qualidades que poderia utilizar em minha vida profissional.
Veio a idade adulta. Vários medos, mas em condições melhores. Afinal, um adulto com boa formação e uma família bem estruturada ajudam.

Na vida profissional, no início, o medo de não conseguir aulas suficientes para sustentar a família. Mas para quem tem a esposa que eu tenho, tudo fica mais fácil. Fomos vencendo as dificuldades, uma a uma, e superando os medos. Sacrificar alguns luxos e prazeres foi a grande virtude.

Nessa época, vieram os medos do regime militar. Eu era jornalista e professor. Duas atividades perigosas para a época. Lembro-me de quando fui ameaçado ao noticiar uma greve de estudantes. Foi terrível. Na sala de aula, todos os cuidados possíveis. Seguir as regras foi meu segredo. E as regras eram claras. Aguardar o momento oportuno para lutar pelas mudanças. Conhecer suas forças e limitações era fundamental. Nunca abrir mão da verdade e nunca enfrentar o impossível. E assim o tempo foi passando.

Veio a velhice. É inevitável. Parecia que os medos tinham ficado no passado. Fim de todos os medos, pensei. Ledo engano. Nunca imaginei que voltaria a sentir medo.

E hoje tenho muito medo de expressar minhas ideias. É um medo triste. Angustiante. Medo de dizer o que se pensa é um dos piores medos que uma pessoa pode sentir. Mas estou certo de que isso também vai passar. Como diz o dito popular: Como não há bem que sempre dure, também não há mal que nunca se acabe. Esse medo também vai passar. Disso eu tenho certeza.

BAHIGE FADEL

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Brasil

As cadeiradas da Democracia, por André Naves

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As cadeiradas da Democracia

André Naves (*)

As eleições municipais são um momento crucial de renovação política, em que a sociedade deveria ter a oportunidade de debater ideias e discutir soluções concretas para os problemas que afligem o cotidiano urbano. Entretanto, as eleições paulistanas, salvo raras exceções, têm se transformado em um triste espetáculo de acusações, insultos e mentiras, em vez de uma arena para o confronto de ideias que visem o bem comum. O que deveria ser uma oportunidade para os candidatos apresentarem projetos para melhorar a vida da cidade, especialmente para as pessoas com deficiência e seus cuidadores, se torna um palco de agressões, onde cadeiras são arremessadas metaforicamente (ou até literalmente) em vez de propostas.
Esse cenário reflete um deserto de propostas concretas sobre temas fundamentais para a vida urbana, como zeladoria, urbanismo, mobilidade, saúde e educação. Em uma cidade como São Paulo, a ausência de discussões sobre a acessibilidade das calçadas, a iluminação pública e as políticas de proteção social revela a falta de compromisso com a inclusão e com a dignidade da pessoa humana. As pessoas com deficiência, que dependem de um ambiente urbano acessível e seguro, ficam esquecidas em meio ao caos eleitoral. Elas, assim como seus cuidadores, permanecem à margem, sem que seus direitos sejam devidamente contemplados nas plataformas eleitorais.
O vácuo de propostas é preenchido por uma espetacularização vazia, onde o debate de ideias é substituído por uma troca incessante de ofensas. A democracia, que deveria ser uma oportunidade de engajamento construtivo, é ofuscada pela superficialidade de discursos que apelam ao emocional, mas que carecem de substância. Essa dinâmica contribui para a alienação do eleitor, que, desiludido com a falta de alternativas concretas, muitas vezes opta pela abstenção ou por votos motivados mais por rejeição a um candidato do que por afinidade com propostas.
O tema da emergência climática, que afeta todos, mas especialmente as pessoas com deficiência, exemplifica bem esse cenário. Em um momento em que a crise climática já causa impactos profundos no cotidiano das grandes cidades, como eventos extremos e o aumento das doenças respiratórias, há um silêncio ensurdecedor sobre políticas que enfrentem essas questões de forma inclusiva e eficaz. As pessoas com deficiência, por sua vulnerabilidade, são ainda mais afetadas por esses fenômenos, e a ausência de políticas que lhes garantam segurança, mobilidade e saúde é um reflexo do descaso generalizado com as minorias.
Diante desse panorama, cabe a nós, eleitores, um papel fundamental. Não podemos permitir que a democracia seja reduzida a um teatro de ofensas e espetáculo vazio. Temos a responsabilidade de investigar, questionar e cobrar dos candidatos propostas concretas que enfrentem os problemas reais da cidade. Quem ocupará a cadeira mais importante do município, a de Prefeito, deve ter como prioridade a promoção da inclusão social, o cuidado com a cidade e com seus cidadãos mais vulneráveis, e o compromisso com o futuro, especialmente diante das urgências climáticas e sociais que nos cercam.
É essencial que fiquemos atentos aos charlatões que se alimentam do ódio e da desinformação. A cadeira do Prefeito não pode ser ocupada por aqueles que desprezam a inclusão e a cidadania, mas sim por quem tenha coragem e competência para transformar o espaço urbano em um local acessível, seguro e acolhedor para todos. Neste momento de escolhas, nossa decisão definirá o rumo da cidade, e é preciso que ela seja feita com base na razão, e não nas cadeiradas de ódio e insultos que tentam mascarar a falta de propostas.
Assim, ao invés de permitir que a política municipal continue mergulhada no vazio de ideias e valores, precisamos exigir mais. Segurança, acessibilidade, educação, saúde, cultura e proteção social são direitos de todos, e cabe a nós garantir que esses temas ocupem o centro do debate. As eleições são o momento de erguer a voz contra os que tentam transformar a política em um show de horrores, e reafirmar o compromisso com uma cidade mais justa, inclusiva e humana para todos os seus habitantes.
* André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor, professor, ganhador do Prêmio Best Seller pelo livro “Caminho – a Beleza é Enxergar”, da Editora UICLAP (@andrenaves.def).

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Brasil

É prioritário substituir os ônus da produção pelos bônus do progresso, por Rafael Cervone

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É prioritário substituir os ônus da produção pelos bônus do progresso

O estudo “Custo Brasil na Indústria de Transformação 2008/2022”, realizado pelo Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da Fiesp, divulgado em agosto último, diagnostica com precisão os ônus que colocam as empresas nacionais em desvantagem na concorrência com as de outros países, tanto no comércio exterior quanto no nosso próprio mercado interno. São problemas muito prejudiciais para toda a economia.

No período, a média do “Custo Brasil” foi de 24,1%, quantificando o peso do nocivo indicador nos preços dos nossos produtos em relação aos dos fabricados nos 15 principais parceiros comerciais, que são os seguintes: Alemanha, Argentina, Canadá, Chile, China, Coreia do Sul, Espanha, Estados Unidos, França, Índia, Itália, Japão, México, Reino Unido e Suíça. Vale ressaltar que essas nações respondem por 75% dos bens industrializados que importamos e 71% do PIB mundial.

Estamos na contramão do senso comum do estímulo ao progresso. São seis os fatores apontados no estudo que oneram nossa indústria: tributação; juros, inclusive sobre capital de giro; preço da energia e matérias-primas; deficiência de logística; benefícios, como saúde e educação, supridos pelas empresas em decorrência da precariedade do atendimento público; e aluguéis, arrendamentos e serviços prestados por terceiros, como consultoria, auditoria, advocatícios, contabilidade, despachante, limpeza, vigilância e informática.

Cabe observar que todos esses itens atingem os pontos nevrálgicos da atuação das empresas. Nota-se, ainda, um círculo vicioso, pois os segmentos citados também são impactados pelo “Custo Brasil”. Assim, o preço final de nossos produtos é uma bola de neve, que cresce a cada etapa do processo operacional/fabril, da gestão administrativo-financeira, do recolhimento de impostos, da contratação de terceiros, da aquisição/pagamento de insumos e matérias-primas e da manutenção dos quadros de recursos humanos.

Parcela expressiva dos encargos que carregamos é constituída pela tributação (51%) e os juros elevados (23%), perfazendo 74% do total. Daí a grande importância da reforma tributária, cuja aprovação está tramitando no Congresso Nacional. Por isso, preocupa-nos muito as exageradas concessões de isenções e reduções tarifárias já incluídas no Parlamento. Se não forem revistas, as alíquotas referenciais dos novos impostos de valor agregado serão próximas de 30%, tornando-se as maiores do mundo. Também precisamos vencer o fantasma dos juros, que nos assombra há tanto tempo.

Nesse sentido, carecemos de políticas monetária e fiscal menos díspares, mais sinérgicas e dedicadas ao propósito comum de contribuir para o crescimento sustentado em patamares mais elevados. Por isso, enfrentar as causas estruturais dos ônus que reduzem nossa competitividade é uma prioridade nacional. É crucial criar condições adequadas para transformar o “Custo Brasil” no “Justo Brasil”, o que significa proporcionar bem-estar, trabalho digno e inclusão social, atendendo aos legítimos anseios de nosso povo de viver em um país desenvolvido.

*Rafael Cervone é o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e primeiro vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

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