Ao chegar no quartel, ela troca o vestido o e o salto alto por um par de botas e um macacão de piloto. Aos 37 anos, sendo quase metade deles dedicados ao Corpo de Bombeiros do Rio, a major Rachel Lopes tornou-se a primeira mulher comandante de aeronave da corporação. Após cinco anos de preparação, ela entrou há um mês para um seleto time: são apenas 11 militares que se revezam nos manches dos cinco helicópteros vermelhos que cruzam o céu do estado em salvamentos e transportes de órgãos e pacientes.
Rachel acostumou-se a estar na vanguarda. Ela ingressou nos Bombeiros em 2001, após ser aprovada no primeiro concurso para oficiais que admitiu candidatas femininas. Desde 1856, quando foi fundada pelo imperador Dom Pedro II, a corporação era composta majoritariamente por homens. Naquele primeiro concurso para mulheres, 22 candidatas foram admitidas. Entre elas, Rachel, que afirma não ter enfrentado preconceito.
— Nunca enfrentei nenhuma discriminação. A gente acaba conquistando a confiança pelo nosso trabalho. Antigamente existia esse pensamento de que algumas profissões são para homens e outras para mulheres, mas hoje isso está ficando para trás. Só cheguei um pouquinho antes, mas as mulheres já estão aí, estão vindo com tudo. É uma honra imensa para mim abrir caminho para mais uma grande conquista feminina, sobretudo em uma corporação que tem essa missão tão nobre, de salvar vidas — diz a major.
Entre 1992 e 1999, 356 mulheres ingressaram no Corpo de Bombeiros. Após a abertura de concurso para praças e oficiais, o número subiu para 1.716 entre 2000 e 2007, uma variação de 326%. No ano de 2002, foi registrada a maior entrada de militares femininas na história da corporação, com 1.049 praças e oficiais. Nos últimos oito anos, mais 1.168 mulheres passaram a integrar o quadro militar da corporação. Atualmente, elas correspondem a cerca de 17% do efetivo total.
IRMÃOS PILOTOS
Antes de se alistar no Grupamento de Operações Aéreas (GOA), Rachel atuou como combatente. Uma das missões mais marcantes de sua carreira foi o resgate de vítimas da tragédia provocada pela enchente que atingiu sete cidades na Região Serrana, em 2011.
— Durante um mês, eu ficava quatro dias em Teresópolis, voltava dois dias para o Rio e, depois, retornava para a Serra. A gente estava em busca de sobreviventes em uma área que havia sido completamente soterrada. O deslizamento de terra foi fatal e matou mais de mil pessoas só naquele bairro. Foi o trabalho que mais mexeu comigo, e também o mais difícil — lembra ela.
O interesse pela aviação surgiu em casa. Rachel tem dois irmãos que pilotam helicóptero, um na Força Aérea e outro na Marinha. Inspirada nos exemplos deles, ela decidiu se informar como poderia tornar-se uma comandante de aeronave nos Bombeiros.
— Eu ficava babando vendo o Águia dos Bombeiros no desfile de 7 de Setembro, sobrevoando a Avenida Presidente Vargas. Eu olhava para o alto e e pensava: “Ainda vou estar lá em cima”. Resolvi perguntar ao comandante do GOA como fazia para ser mulher piloto. Ele disse que nunca nenhuma mulher tinha demonstrado interesse em ser. Eu disse, então, que esse seria meu desafio — conta ela.
Além de Rachel, outras duas militares entraram para o time do GOA. Atualmente, elas atuam como co-piloto e em breve serão comandantes.
NOVO HELICÓPTERO
O Corpo de Bombeiros conta, hoje, com cinco helicópteros vermelhos do modelo AS350, também chamado de Esquilo. Com capacidade para até seis tripulantes, a aeronave é usada em salvamentos e no transporte inter-hospitalar de pacientes, órgãos e tecidos vitais. Em breve, no entanto, a corporação vai ganhar uma aeronave mais potente, modelo AW169, com duas turbinas.
O pregão para a compra da aeronave ocorreu em dezembro e o contrato, no valor de R$ 52 milhões, foi assinado na última quinta-feira. A aquisição foi feita com verba do Gabinete de Intervenção Federal e o helicóptero deve chegar em até dois anos.
O novo helicóptero, além de oferecer mais segurança no voo por ter duas turbinas, também permite a navegação com auxílio de instrumentos. Com isso, os pilotos poderão vencer uma de suas maiores dificuldades, que é a redução de visibilidade provocada por condições climáticas adversas.
— As pessoas acham que a chuva atrapalha os voos, mas a chuva não é determinante. O que é determinante é a visibilidade. O vento também pode deixar o voo mais turbulento, mas nada que não possa ser controlado — explica Rachel.
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