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Bahige Fadel

Crônica – AS ELEIÇÕES – por Bahige Fadel

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AS ELEIÇÕES

Quem vencerá as próximas eleições? Oh dúvida cruel! Quem será? Quem ganhará o grande prêmio, mercê de nossos nem sempre tão conscientes votos? Quem será o aquinhoado por uma carta branca que lhe daremos para que nos represente? Por falar nisso, algum leitor se sente, realmente, representado por essa cambada que está no poder? Você, leitor consciente, revoltado, batalhador, alienado, participante, acomodado, descrente, fiel, traidor, crente, ausente – qualquer adjetivo que você queira colocar aqui – se sente representado por quem? Por aquele que bateu às suas costas e utilizou um falso sorriso hollywoodiano, para convencê-lo de seus castos ideais em prol do desenvolvimento acelerado da nação? Foi nesse que você votou? É esse que o representa? E o que ele fez para concretizar esses ‘castos ideais’ aos quais ele se propôs? Reduziu a desigualdade social no país? Acabou com a miséria gerando empregos? Melhorou a educação no país, valorizando os profissionais da educação, que, agora, com melhores salários e melhores condições de trabalho, conseguem aperfeiçoar-se continuamente, para serem educadores melhores? Ou diminuiu consideravelmente a violência, acabando com a impunidade e dando o exemplo incontestável de conduta ilibada? O que fez ele?

Ou você votou naquele que você, apesar de saber que nada faria de bom e útil, era seu conhecido, ou era conhecido de um parente, ou era conhecido de um conhecido seu, ou era conhecido de um cara que você encontrou na rua e pediu que você votasse nele, porque era bom? É nesse que você votou? E depois, o que ele fez? Algum projeto para transformar o país? Alguma ação para acabar com uma tal letargia modorrenta que teima manter o país na UTI do desenvolvimento, vivendo apenas graças a aparelhos? Alguma defesa pública da justiça e dos bons costumes? Alguma reação consistente às gangues políticas que se acomodam no poder e tramam em benefício próprio e contra os interesses da população?

Ou você resolveu votar – ninguém é de ferro, né? – naquele que lhe deu um presentinho ou um dinheirinho ou lhe prometeu um emprego – para você mesmo ou para seu filho ou para seu genro ou para ser cunhado, que ninguém aguenta cunhado desempregado – , ou upgrade no seu emprego? Foi nesse que você votou? E agora, conseguiu o tal emprego ou ficou apenas na promessa, no está difícil para todo mundo, no precisa ter mais paciência ou já estou quase conseguindo?

Bom, agora não interessa mais em quem você votou. Não adianta chorar o leite derramado. É preciso saber em quem você vai votar nas próximas eleições? Vai votar do mesmo jeito que votou nas eleições anteriores para que tudo fique como está ou ainda pior? Ou vai ficar só torcendo para que a lava-jato resolva todos os seus problemas?

Ah! Não vai votar em ninguém. Grande solução! Pilatos também fez isso, um dia. E um justo e inocente acabou sendo condenado. O premiado foi o bandido. Não é hora de repetir essa história.

BAHIGE FADEL

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Bahige Fadel

DIFICULDADE – artigo de Bahige Fadel

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Há certos momentos em que as coisas começam a ficar difíceis. Os motivos podem ser vários. A idade, por exemplo. Com a idade, muitas coisas ficam difíceis. Eu me lembro do tempo em que eu subia no telhado da casa, para consertar umas telhas.

Não precisava fazer planos para isso. Era coisa simples. Agora? Nem pensar! Tenho feito planos para subir uma escada de cinco degraus. Antes, a gente ia a uma festa e ficava lá até de madrugada. E agora? Chééé! – como dizia um amigo meu. Se encosto a cabeça no travesseiro, já estou dormindo. Coisas da vida. Ou da idade.

Mas essas dificuldades são compreensíveis. Não me preocupam tanto. Para algumas coisas, é só tomar mais cuidado. Ou simplesmente abrir mão daquilo que já é um sacrifício fazer. Nesse caso, é ter consciência do momento. Com a idade, você pode fazer muitas coisas, mas não tudo que fazia na juventude, só que mais devagar. Então, é só não ter pressa. É a lentidão que a idade pede? Seja lento. Mas não deixe de fazer o que ainda é possível. Não se deve culpar a idade pela inatividade.

A inatividade é uma opção. Eu sempre opto por vencer os obstáculos. Pode não dar certo, mas é o propósito.
Outra dificuldade que vem com a idade é a audição. Ou a falta dela. Meus filhos e minha mulher ficam loucos da vida. Às vezes, fica chato perguntar de novo ou pedir para falar mais alto. Mas ainda não é uma dificuldade do tamanho de um bonde. Do tamanho de um bonde. Nossa! Essa expressão é do tempo de Matusalém. Aliás, eu dizia aos meus alunos que eu tinha sido professor do avô de Matusalém. A maioria não entendia, mas tudo bem.

Mas sabe qual é a dificuldade que mais me incomoda? É a dificuldade de acreditar em políticos. A maioria mente com a maior cara de pau. E nem passam óleo de peroba na casa. Mentem com a cara limpa. E nem ficam vermelhos, quando são apanhados na mentira. Para esses políticos, parece que a mentira é a regra.

A exceção é a verdade. Isso causa nojo. Recentemente, o governador de São Paulo enfrentou uma manifestação contra um de seus atos. E ele disse a verdade: Isso estava no meu plano de campanha. Se eu fui eleito, é porque a maioria concordou. As pessoas acharam estranho, só porque ele falou a verdade. Mas quando outros políticos mentem, e mentem, e mentem, ninguém contesta. Parece que as pessoas já esperam pela mentira. A verdade é que é inesperada.

Só que, com a idade, fui perdendo a paciência para aceitar certas coisas. Antes, eu me rebelava, repicava tambores, rodava a baiana. Hoje sinto um cansaço incômodo, pesado. Procuro me afastar.

Penso em desprezar tudo isso, mas depois me lembro de que tenho filhos e netos, que sofrerão mais do que eu por causa dessas mentiras. E fico intranquilo. E o mais difícil é que, atualmente, para se fazer uma crítica a essas coisas que pipocam por aí, você tem que medir as palavras. Certas críticas são consideradas crimes de lesa-pátria. A mentira pode; a crítica não pode. Difícil aceitar, né?

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DESCOBERTAS, artigo de Bahige Fadel

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DESCOBERTAS

Há um ditado popular sobre o qual estive pensando nesses dias: ‘O tempo é o senhor da razão’. Quando eu era jovem -isso já faz muito tempo – eram os velhos que a falavam. E a gente não dava bola para o que eles diziam. Parecia não ter sentido. Coisa de velhos, a gente pensava. Os velhos acham que sabem mais do que a gente, continuávamos pensando.

Mas a gente envelhece – feliz ou infelizmente – e começa a mudar de opinião sobre certas coisas. Uma delas é essa: o significado dessa frase. E começamos a perceber que ela faz sentido, embora não seja uma verdade absoluta. É que  alguns velhos, com o tempo, só ganharam rugas e dores, nada mais. Continuam incapazes de mudar.   Que mudar significa fraqueza, não sabedoria.

Lembro-me de um tempo em que algumas pessoas estufavam o peito e diziam, como se fosse uma grande virtude: Tenho personalidade, não mudo de opinião. Querem coisa mais ridícula do que isso? Onde é que mudar de opinião é falta de personalidade? Você tem que ter muita personalidade e humildade para mudar de opinião, quando encontrar uma opinião melhor. E isso eu vi com o tempo. Não tenho a mínima dificuldade de mudar de opinião, desde que descubra opiniões melhores do que as que eu defendia.

Por exemplo, com o tempo, descobri que determinadas lutas não valem a pena. Lutas que não mudam nada. Lutas com derrota programada. Lutas com desilusões claras. Quer ver? De que adianta lutar contra esse cara que diz não mudar de opinião, por ter personalidade? Qual será o resultado dessa luta? Decepção. Você se desgastará e o adversário continuará pensando da mesma maneira. Com o tempo, a gente começa a selecionar melhor as lutas. Começa a escolher as lutas que é capaz de vencer. Vencendo, haverá alguma melhoria para você e para o mundo. Caso contrário, é melhor deixar tudo como está. E você reserva energias para objetivos mais importantes.
O tempo me ensinou que o ódio não cria nada de bom. É plenamente dispensável. Deve ser evitado. O ódio não causa bem a ninguém. Nem a quem odeia nem a quem é odiado.  Eu me lembro de que, quando estava na faculdade, escrevi um texto que tinha estas frases: ‘O ódio é pesado, o amor é leve. Para que carregar peso?’. Isso não foi o tempo que me ensinou. Aprendi ainda cedo. E a gente vê tanta gente pregando o ódio como solução. O ódio é doença, não remédio.  O ódio é ferida, não cura. E a gente vê tanta gente que sente prazer em odiar. E não estou falando em ódio político, esse disfarçado de bem, de solidariedade…  Desse ódio nem vale a pena falar. Muitos já se incumbem disso.

O tempo me ensinou muitas coisas. Uma delas é que eu preciso cuidar de mim, para poder cuidar dos outros. Não adianta eu querer cuidar dos outros, se eu mesmo não estou bem. A coisa funciona como no avião. A funcionária explica que, em caso de problema, descerão máscaras de oxigênio. Primeiro, a gente coloca a máscara e depois coloca na criança que está ao nosso lado. É que você precisa estar bem, para poder melhorar outras pessoas. Você só poderá melhorar o mundo, se conseguir melhorar a si mesmo.

Outra descoberta é que os amigos são poucos. Na juventude, a gente acha que tem dezenas de amigos. Bobagem. Ser companheiro de cerveja não é ser amigo. Mas isso não é um mal. Muitas vezes, nem as pessoas da família são suas amigas. Você precisa de pouca gente para ser feliz. Em primeiro lugar, deve ser amigo de si próprio. Devemos gostar do que somos. Devemos nos sentir bem com o que somos.

Devemos nos cuidar, para que estejamos bem. Isso é fundamental. Depois, cuidar das pessoas que dependem de você. As pessoas que convivem com você devem estar bem. Depois, dar muita atenção e carinho para as pessoas que procuram deixá-lo melhor. Essas pessoas gostam de você. Essas pessoas são suas amigas. Já contou quantas pessoas são assim?

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Bahige Fadel

COMO AGIR – artigo de Bahige Fadel

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Amigo, você já pensou em como tomou determinadas atitudes?

Você tende a agir por amor, por ódio, por desprezo ou para manter a rotina? Você tem agido com raiva ou com calma? Você tem paciência quando vai tomar determinada decisão ou age afoitamente, sem prever as consequências? Você tem agido por prazer ou por obrigação? Depois de agir, sente alívio, preocupação ou, simplesmente, calma pelo dever cumprido?

Por favor, note os discursos dos homens públicos. Preste bem atenção neles. As palavras são emitidas com raiva. Essas pessoas nem se preocupam em disfarçar a raiva que sentem. Parece que falam com uma metralhadora na mão. Falam com veneno nos lábios. Parece que não há mais adversários; há inimigos. E as palavras são para colocar esses inimigos fora de combate. Esses inimigos são indesejáveis e, por isso, devem ser abatidos. Os que discursam dessa maneira, o que sentem depois? Sentem paz? Improvável. Sentem satisfação? Só se forem sádicos. Sentem o prazer do dever cumprido? Mas que prazer? O de abater o inimigo? Só se acharem que estamos em plena guerra. Sentem orgulho? Orgulho? Quem pode sentir orgulho por ter destruído o próximo? Sentem alívio? Não pode ser. A gente se sente aliviado quando resolve um gran de problema, quando supera uma enorme dificuldade, quando se desfaz de uma insuportável dor. Não consigo imaginar um alivio por destruir o adversário, que é transformado em inimigo.

E aqueles que falam de amor com ódio no tom de voz e na forma de olhar? E os que falam de paz com uma arma (real ou imaginária) nas mãos? E os que falam em igualdade afastando os diferentes? E os que falam em solidariedade apontando para as feridas, sem procurar curá-las? E os que falam em recomeço insistindo nas mesmas fórmulas do passado, para que nada se mude? E os que falam em distribuir o alimento, espalhando tão somente a amarga esperança, que nunca se transforma em realidade? E os que falam em elevar o próximo elevando-se a si próprios?

Nesse contexto, como agir, então? Como esses citados nos parágrafos anteriores? Ou cruzar os braços, como se os problemas não nos pertencessem? Como ser útil para si mesmo e para o outro? Há muitas maneiras boas. Mas uma delas, com certeza, é falar apenas quando for para o bem. Nem tudo deve ser dito, mesmo que seja verdade. Por que dizer a um enfermo que ele morrerá logo, se se pode dizer a ele coisas que confortam, que lhe darão alívio no pouco tempo de vida que lhe resta? Outra maneira é desarmar as mãos, os pensamentos e os espíritos. Há muitas armas mortais no mundo. Não há necessidade das que possamos ter. As armas necessárias são as que edificam, não as que destroem.

Sei que tudo isso parece difícil. Pode ser. Mas há tanta coisa difícil que praticamos sem reclamar. O importante é que tenhamos propósitos edificantes. O importante é saber que se o vizinho estiver em paz, haverá silêncio na vizinhança e, assim, poderemos dormir melhor.

BAHIGE FADEL

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