REFLEXÕES SOBRE O DIA DO PROFESSOR
Nesses dias, estava eu refletindo sobre o professor. Todos os anos, uma vez pelo menos, a gente deveria fazer isso. Não que resolva alguma coisa, mas, pelo menos, temos a consciência de alguns aspectos que, muitas vezes, passam despercebidos. A correria do dia a dia nos leva a fazer tudo automaticamente, o que não é bom. Não somos máquinas programadas para determinadas atividades. Assim, temos que refletir para aprimorar. E qualquer coisa, por melhor que seja, pode ser aprimorada.
Quando eu era criança, lá em Pardinho, fiz o primário no grupo escolar Napoleão Corule. E eu ia à escola com orgulho. O que você faz? – perguntavam. Estudo no Napoleão Corule. Sou aluno da dona Ernestina. Era bom falar isso. As pessoas, ao ouvirem minha declaração, pensavam: Esse menino tem futuro.
A gente ia à escola para aprender, para adquirir conhecimentos, para se preparar para a vida. O professor levava para a gente os conhecimentos do mundo: a língua, a matemática, a ciência, a história e a geografia. Junto disso, orientavam-nos para sermos educados, respeitosos, para amarmos a pátria, para ajudarmos os mais necessitados. E a gente procurava fazer tudo direitinho. Quando a gente aprontava, levava um chá de boca daqueles e, até mesmo, algumas reguadas nos braços ou nos glúteos. E não íamos reclamar em casa, porque seria pior. Lá o castigo era mais dolorido. Ninguém falava em pedagogia, didática, técnicas de ensino. O professor explicava, a gente prestava atenção e aprendia. Nem sempre a gente aprendia tudo, mas aprendia alguma coisa.
Passaram-se os anos, e virei professor. Os pedagogos diziam que a sociedade estava mais complexa e que o professor deveria entender tudo isso. Então, a gente estava sempre atento, estudava a melhor maneira de entender as dificuldades dos alunos, aprendia novas maneiras de ensinar. O professor virou um motivador. Ainda era o portador do conhecimento e, quanto melhor ele transmitia esse conhecimento, mais o aluno aprendia. A indisciplina na sala de aula, na maioria das vezes, era culpa do próprio professor. Cabia ao professor motivar os alunos, para que eles se interessassem pela aula. Aluno indisciplinado era aluno desmotivado, e a culpa era do professor. Então, a gente rebolava para motivar os alunos. Tinha que motivá-lo e não podia abrir mão de normas e regras, de valores e conceitos. O professor deixou de ser o portador do conhecimento que deveria ser ensinado ao aluno e se transformou num motivador e num facilitador. Já existiam outras fontes de conhecimento. O professor passou a ser apenas mais uma delas, e nem sempre a mais interessante.
E os tempos passaram. O mundo se transformou. As pessoas se transformaram. Mudaram as suas necessidades. A escola teve que mudar, atualizar-se, integrar-se ao mundo do seu aluno. A tecnologia passou a ser indispensável. Mais importante que o conhecimento, passou a ser indispensável ao professor dominar a tecnologia e utilizá-la como meio pedagógico e didático. Quem não usar a tecnologia passa a ser jurássico, do tempo de Matusalém.
E tudo isso, um dia, vai mudar. A tecnologia engolirá a tecnologia. O professor não será mais um especialista em humanas ou exatas. Será especialista em determinado tipo de tecnologia. Quando a tecnologia engolir a tecnologia, o professor – ser humano – já terá sido engolido? Ou se submeterá à tecnologia para sobreviver? Ou será um programador de robôs? Ou terá, para utilizar a linguagem de Manuel Bandeira – uma morte absoluta? ‘Quando não restar uma lembrança… uma saudade… nem a lembrança de uma saudade. Quando, ao verem seu nome, perguntarem quem foi, e ninguém souber, aí você terá morrido completamente.’
Espero que a pessoa do professor – não a sua técnica – nunca tenha essa morte. E por acreditar nisso, desejo a todos que teimam ser exemplo para seus alunos um feliz dia do professor.
BAHIGE FADEL