Faremos apenas o que conseguirmos priorizar.
Na maioria das vezes em que falei sobre priorização, ao longo de tantos anos, contei variações daquela velha história de um rei, lá das terras “batrícias”.
Ele já era idoso, tinha dois filhos – o Khalil e o Isaac – e queria transferir o seu trono para aquele que se provasse mais inteligente e mais capaz.
Um dia ele os chamou e lhes deu uma tarefa. Entregou para ambos um balde grande, um saco de areia, um saco de pedras pequenas e um saco de pedras grandes. Disse-lhes que deveriam colocar esses materiais no balde de modo que conseguissem o maior peso final possível.
Algum tempo depois, o Khalil voltou com o seu balde cheio e o pesou na frente do rei. Quarenta e dois quilos. Em seguida, veio o Isaac e pesou o seu balde. Quarenta e nove quilos.
O Khalil, surpreso, foi conversar com o irmão e entendeu o que havia acontecido. Ele, o Khalil, colocou antes a areia e as pedras menores e deixou as pedras maiores para o final. O Isaac fez o contrário. Colocou antes as pedras grandes e depois as menores e a areia. Estas, escorreram e ocuparam os espaços vazios entre as pedras maiores.
O rei explicou aos filhos que na vida ocorre o mesmo. É melhor priorizar as coisas de maior impacto. As coisas menores devem e podem ser feitas nos intervalos. Se cuidarmos antes das coisas menos importantes, poderão faltar espaço e recursos para fazermos o que realmente faz a diferença. E transferiu o trono para o Isaac.
De fato, não há limite para as oportunidades de se fazerem coisas, mas os recursos são sempre limitados e disputados por outras oportunidades ou interesses. Um desses recursos é o tempo.
– Você já enviou aquela informação? Não. Não deu tempo hoje.
– Hoje é aniversário do Fulano. Você já telefonou para ele? Ainda não. Nessa correria, não tive tempo.
– Tem tido bons papos com os filhos? Não tem dado tempo. Quando chego em casa, eles já estão dormindo.
Deixamos de fazer coisas importantes e culpamos a “falta de tempo” pelas nossas faltas, falhas e omissões. Usamos justificativas confortáveis que negligenciam os reais motivos das ocorrências.
Todos nós desempenhamos diversas atividades e realizamos uma variedade de tarefas durante todo o tempo. Desde as mais simples e rotineiras (comer, dormir ou fazer a higiene) até as mais complexas e desafiadoras, todas demandam tempo e são igualmente importantes dependendo do momento e das circunstâncias em que ocorrem.
Tempo sempre há. A questão é definir o que fazer com ele. A escolha do que faremos a cada momento obedece a algum tipo de critério de priorização (objetivo ou não) ou a algum quadro de preferências pessoais. Assim, as tarefas que definirmos como prioritárias serão feitas e aquelas das quais não gostamos ou que não foram eleitas como prioritárias, naquele momento, ficarão para depois ou, simplesmente, não serão feitas.
Portanto, o melhor argumento não é “não deu tempo”, mas sim “ainda não foi uma das minhas prioridades”. Tempo é uma questão de preferência e de priorização. Sempre haverá tempo para fazer as coisas prioritárias e nunca haverá tempo suficiente para fazer as demais.
Desenvolver e aplicar métodos de priorização são ferramentas eficazes para vencer as inércias, as preferências pessoais, os modismos e as pressões inevitáveis em favor do que é mais importante, mais oportuno e que prometa maior retorno material ou emocional, segundo algum tipo de critério de avaliação.
Adib Fadel
Colunista do Cidade Botucatu