Confesso, já fui político. Mas foi no tempo em que a gente acreditava que podia consertar o Brasil. Estávamos saindo da ditadura militar e o Brasil inteiro clamava pela redemocratização do país. A gente queria eleger os nossos representantes para, depois, poder cobrá-los. ‘Vão ter que trabalhar pela saúde, pela educação, pela segurança, por empregos melhores para os brasileiros, para mais esperanças para cada cidadão.’ E a gente foi para as ruas. Eu fui para a política. Depois de algum tempo, percebi que em política não existe história da carochinha, não existe fada com a sua varinha de condão, para fazer suas mágicas e realizar os nossos sonhos, não existe o pó de pirlimpimpim. Isso é coisa do sítio do Pica-pau Amarelo, não de política.
Na política, o buraco é mais em baixo. Política não é para amadores (essa frase, eu emprestei). É para profissionais. Nada mais natural que seja para profissionais. Afinal, medicina é para profissionais. Então, surgem os médicos. Educação é para profissionais. Então surgem os professores e os demais especialistas em educação. Assim, política também é para profissionais. Então, surgem os especialistas em cambalacho, em corrupção, em malandragem, em roubo, em destruição de sonhos, em construção de pesadelos, em individualismo, em egocentrismo, em mentira, em dissimulação, em incompetência, em gangue. E tem gente com pós-doutorado em tudo isso.
Incrível como em política pode haver a reunião de tantos especialistas nessas atividades. E esses especialistas, bem empregados, com mordomias que nenhum brasileiro tem, além dos elevados salários, fazem direitinho aquilo para o qual se propuseram: beneficiar-se com o dinheiro do povo. Sim, eles se locupletam e o povo é quem paga a conta.
Esses dias fui ler um pouco mais a respeito do tal fundo eleitoral aprovado pelas suas excelências. Impressionante. Eles aprovaram para eles mesmos a bagatela de R$ 1.750.000.000,00. Viram quantos zeros? E esses zeros são aqueles que valem. E valem pra caramba! É muito dinheiro tirado no nosso trabalho, do nosso esforço. E sabe para quê? Para eles continuarem lá, fazendo o que fazem. Enquanto isso, a saúde pública, que há muito tempo não consegue caminhar bem nem com bengala, vai perder R$ 70.000.000,00. Enquanto o doente morre por falta de remédio ou por falta de médico ou por falta de hospitais, as suas excelências tiram da saúde setenta milhões de reais. E sabem para quê? Para continuarem lá fazendo o que fazem.
A FUVEST, este ano, pediu para os vestibulandos lerem o livro Minha Vida de Menina, de Helena Morley. É o diário de uma adolescente. Num dos dias ela escreve: ‘Os maus devem ser muito mais felizes do que os bons.’ Estou começando a acreditar na Helena Morley.