INFELICIDADE
Tomara que eu esteja errado, mas as pessoas não estão felizes. Não estão. Nem vencedores nem vencidos. A gente vê na expressão do rosto. Não há felicidade. A pessoa verdadeiramente feliz não quer ou pede vingança. A pessoa verdadeiramente feliz não quer a infelicidade do outro. A pessoa verdadeiramente feliz quer compartilhar sua felicidade. Assim, ela precisa de outras pessoas felizes. Ninguém se sente bem na tristeza. Ninguém pode ter felicidade em meio ao ódio. E o que a gente vê? Ódio. Ódio com motivo e ódio sem motivo. Ódio pelo prazer de odiar. Ódio pelo desejo de que a outra pessoa se sinta menor. Ódio disfarçado. Ódio camuflado. Ódio escondido atrás de sorrisos forçados. Ódio oculto na sombra de atitudes aparentemente ingênuas.
Outro dia, um grupo de pessoas estava zombando de uma outra pessoa. Disse a elas que aquilo não era bom, que aquilo estava humilhando a vítima. Em meio a sorrisos, o grupo de pessoas me disse que eu não sabia de nada, que a vítima era um amigo, que eles estavam apenas brincando. E eu argumentei que a vítima, que era, segundo eles, um amigo, não estava se divertindo, que não estava se sentindo confortável. O grupo zombador me disse que eu não entendia nada dos dias atuais, que eles sabiam o que estavam fazendo.
Ante tal afirmação, calei-me e fui embora. Não queria continuar presenciando aquela cena: um grupo se divertindo às custas de uma pessoa. Faz sentido? Claro que não. Se era um amigo, teria que estar divertindo-se junto. Um amigo não pode ser vítima da diversão de outros amigos. É humilhante. É desrespeitoso. E as pessoas que precisam humilhar para se sentirem felizes têm algo de errado. E esse erro está relacionado ao ódio, à infelicidade. Só que isso está sendo visto como normal. ´É pra enturmar, professor!’. Pra enturmar, uma ova! Isso é pra espantar. Não se enturma humilhando alguém. Quando você humilha, está demonstrando ódio, desprezo, desejo de afastar a pessoa.
Como escrevi no início da crônica, tomara que eu esteja errado. Tomara que o que ando vendo na sociedade não passe de ilusão. Tomara que as pessoas estejam, de fato, procurando amar-se, procurando valorizar os outros, procurando fazer com que os outros se sintam felizes. Tomara que o ódio manifestado na campanha eleitoral seja apenas encenação, seja apenas disfarce. Tomara que seja tudo o contrário do que aparentou ser. Tomara que todos desejem a paz, a tranquilidade, a fraternidade. Tomara que todos estejam dispostos a fazer o que estiver ao seu alcance para a felicidade coletiva. Tomara. Assim, terei prazer em perceber que estou errado e serei feliz por isso.
BAHIGE FADEL