MUDANÇAS
Na vida, a gente tem que ficar se adaptando às mudanças. Pelo menos, deveria ser assim. Aqueles que não conseguem devem sofrer uma barbaridade. Há pessoas que não se adaptam ao calor e sofrem no verão. Outras não se adaptam ao frio e sofrem no inverno. É uma vida de sofrimento. O interessante é que existem pessoas que se orgulham de sua incapacidade de adaptação. São aqueles que enchem o peito e falam ‘Comigo não, comigo não tem essa de ficar mudando. Eu tenho opinião e não mudo, que mudem os outros’. Para algumas pessoas, não mudar de opinião é uma virtude. Mesmo que exista uma opinião melhor, não mudam. ‘Quem muda sempre é cigano. E minhas ideias não são ciganas.’
A gente que é cronista, por exemplo, tem que ficar mudando os assuntos. Tem que estar se adaptando às coisas do dia a dia. Nenhum cronista pode ficar acomodado aos assuntos do passado. Cronista não é museu. Só museu é que se contenta com as coisas do passado.
Até o ano passado, era uma moleza ser cronista. Era só procurar coisas relacionadas à corrupção. Da primeira à última página dos jornais, havia assuntos à farta. Descobria-se sempre mais uma do ex-presidente ou se encontravam vultosas quantias nas cuecas ou nas malas de homens públicos. Era assunto para todos os dias. Os prejudicados entravam com recursos para saírem da cadeia. Os recursos eram rejeitados em sua grande maioria. Os a favor eram contra as prisões; os contra eram a favor das prisões. Uma verdadeira novela de suspense, com muitos capítulos.
Hoje as coisas mudaram. A não ser pela descoberta de mais um ou outro caso de governos anteriores, a questão da corrupção está perdendo espaço. Na falta de novos casos de corrupção, a mídia se volta para outros assuntos. E conforme as tendências de cada órgão, estão até procurando pelo em ovo para fazerem notícias. O que aquele ministro falou ao telefone, a falta de diplomacia do presidente, a questão da escolha do diplomata nos Estados Unidos. E a imaginação fértil e profética de alguns querendo descobrir, no presente, o futuro: ‘o Brasil vai se entregar para os Estados Unidos, o fogo na floresta Amazônica é colocado pelas Ongs insatisfeitas com o atual governo…’
A verdade é que não é hora de profecias ou de invencionices. É hora de fiscalização – sempre -, de colaboração e, por que não fizer?, de torcida. Temos, sim, que torcer por dias melhores. Temos que torcer, para que as mudanças que estão sendo colocadas deem os resultados necessários e que a vida dos brasileiros melhore. Não suportaremos muito tempo com mais de 14 milhões de desempregados. Torcer contra não pode fazer bem ao Brasil. A torcida a favor é necessária, mas a fiscalização nunca deixará de ser obrigatória.
BAHIGE FADEL