NEYMAR: CULPADO OU INOCENTE?
O brasileiro adora criar a sua própria Inquisição, principalmente quando está envolvido num caso turbulento algum notável, como o Neymar, por exemplo.
A Inquisição da Igreja Católica, como se sabe, teve dois momentos. A primeira, que surgiu na idade média, era mais branda. No século XIII, o Papa Gregório IX, preocupado com o crescimento de seitas religiosas, criou essa instituição para fiscalizar essas pessoas. Os que não professassem a fé cristã aram considerados hereges e punidos por isso. Mas as punições eram mais brandas. A mais comum era a excomunhão. A segunda Inquisição surgiu violenta, na Espanha, no século XV, e seu objetivo principal era fiscalizar os cristãos novos – os judeus convertidos ao cristianismo – para ver se não continuavam praticando as crenças antigas. Nesse caso, as punições eram mais rigorosas e chegavam até à morte na fogueira, à prisão perpétua e ao confisco dos bens. Devia ser terrível. Bastava o cara não comer carne de porco que já era acusado de judaísmo. Posteriormente, foram enquadrados os iluministas, os protestantes, os bígamos e os homossexuais.
No Brasil, não consta que tenha havido a Inquisição, mas consta que entre os séculos XVI e XVIII, foram enviados para cá emissários da Inquisição, que condenaram aproximadamente quatrocentos brasileiros. Entre eles, vinte e um teriam sido condenados à morte na fogueira, tendo sido enviados para Lisboa, para onde eram encaminhados os casos mais graves.
E nesse número não está computado o nome de Neymar. Parece que os brasileiros querem agir como inquisidores, à semelhança do Santo Ofício da Igreja Católica de antigamente. Um monte de pessoas tornou-se especialista em estupros e prostituição. Todos são expertos. Principalmente quando se trata de alguém notável e rico. E sejamos coerentes: que muitas vezes, com suas atitudes intempestivas e irresponsáveis, dá motivos para sentimentos negativos.
Mas todos, agora, querem julgar o Neymar, como se fosse o grande bandido do momento. Lula e Bolsonaro devem estar felizes com o acontecimento. Os bolsonaristas e os anti-bolsonaristas se esqueceram do presidente e do prisioneiro e adotaram Neymar como assunto mais importante do momento. A reforma da previdência pode ser deixada para depois, pois o importante mesmo é julgar o Neymar. Como se a gente tivesse alguma coisa a ver com isso. Se o ex-presidente Lula é formador de quadrilha ou não, se ele foi responsável por atos que deram enorme prejuízo para a nação não tem importância nenhuma. O que é importante mesmo é se Neymar estuprou ou não a moça que foi encontrar-se com ele em Paris.
Gente, o caso Neymar interessa ao Neymar, à moça envolvida e à justiça. A condenação ou não dele se dará se ele for culpado ou não, independente de nossa vontade e de nossas opiniões. Há assuntos muito mais importantes para o Brasil que dependem de todos nós. Se fecharmos os olhos para eles, teremos que arcar com as consequências, calados, pois ao invés de lutarmos pela melhor solução, ficamos preocupados com o Neymar, que não está nem aí para o que pensamos dele.
BAHIGE FADEL