Bahige Fadel

O LADO DIREITO – Por Bahige Fadel

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(Depositphotos)

Caro leitor, vou contar uma história para você. Juro que é verdadeira. É sobre o meu lado direito. Estou meio encasquetado com esse lado. Ainda não defini se ele é meu amigo ou meu inimigo. Às vezes penso que, só porque sou canhoto, ele resolveu azucrinar a minha vida. Resolveu ser meu inimigo de sangue. Não é para rir, caro leitor. É para chorar.

Quer ver? Vou começar de cima para baixo. Meu ouvido direito escuta muito menos do que o esquerdo. Se alguém estiver perto de mim e quiser contar um segredo a alguém, é só falar mais baixo um pouco, que não escutarei nada. É um saco! A gente tem que conversar com outra pessoa ficando de um lado só. Como vê, o ouvido direito não me ajuda muito.

Na mesma altura está o olho direito. Minha médica me disse que eu tenho um enrugamento da retina. Resultado: enxergo muito pouco desse lado. A cirurgia é muito arriscada e não vale a pena o risco. O olho esquerdo compensa.

Descendo. Vamos para a boca. É normal alguém ter um lado da boca melhor do que o outro? Não pode ser. Meu lado direito da boca é uma lástima. É só eu me arriscar a morder um biscoito um pouco mais duro utilizando o lado direito que creck. Lá se foi mais um pedaço de dente. Meu dentista deve adorar o lado direito da minha boca. Deve rezar para os santos dos dentistas que mantenham o lado direito da minha boca do jeito que está. Se fico um mês sem marcar uma consulta com ele, deve ficar preocupado. Será que ele consertou o lado direito? Nem pensar. O lado direito de minha boca é inconsertável. Dá para remendar, mas consertar para ficar bom definitivamente, nem mágico consegue. Enfim, o lado direito de minha boca é o paraíso do meu dentista.

Descendo mais um pouco. Meu ombro direito. A cartilagem do ombro já deve ter desaparecido. É osso no osso. E como dói! Caramba! Não tem conserto. Meu médico me pediu para tomar diariamente colágeno. Perguntei a ele se isso iria acabar com a minha dor. Ele me deu um risinho maroto e me disse. É melhor você se acostumar com essa dor. Vai ser sua companheira pelo resto da vida. O colágeno é para diminuir um pouco e não piorar ainda mais a situação. Tudo bem. Já estou viciado em colágeno. Mas a dor continua. Uns dias mais, outros dias menos. Mas nenhum dia ausente. Vou ser honesto. O lado esquerdo não é lá essas coisas, mas nada que se compare ao lado direito. O ombro direito é imbatível em questão de dor.

Um degrauzinho abaixo e chego à mão. Lá está o meu dedão que tem o tal de dedo-gatilho. É só eu pegar algo meio desajeitado que ele vai para trás. É aquela dor terrível. Você fala todos os palavrões que conhece, para aliviar. Sim, caro leitor, palavrão alivia a dor. Se você nunca tentou, tente. A cada palavrão que você fala a dor diminui. E olhe que já fiz cirurgia nesse dedão. Na ocasião, o médico me disse: Esse problema você não tem mais. E o médico acertou. Aquele problema da cirurgia não devo ter mais, mas tenho outro muito pior, muito mais dolorido.

Pensa que acabou? Nananinanã!  E o quadril? Caramba, como dói esse negócio! É a mesma dor do ombro, cara. Se estou de pé, dói. Se estou sentado, dói. Se estou dormindo, dói. E sempre do lado direito. O colágeno do médico foi para aliviar a dor no quadril também.

E continua a descida. O joelho direito até que não era dos piores, mas, um dia, indo para a sala de aula, lei um escorregão e imagine qual foi o joelho que espatifou no chão. Imagine. O joelho direito, é claro. Arrebentou a patela, soltou o cordão patelar, nova cirurgia e três meses de molho mais alguns meses de fisioterapia, para ficar – como direi? – menos ruim. Consigo andar bem, mas ainda dóóóiii.

Calma, leitor. Ainda não acabou. Nunca tinha tido problemas no pé direito, até que um dia, cortando grama no jardim de minha casa, o que aconteceu? O especialista em cortar grama – e dedo – estava trabalhando de chinelo e, numa distração, escorregou. E onde foi parar o pé direito? Acertou! Debaixo da máquina de cortar grama. O resultado, se você ainda não conhece, vai ter que imaginar. É meio trágico para ficar contando numa crônica.

Tenho ou não tenho razão de dizer que o lado direito não tem sido muito meu amigo? Ou será que sou eu que não tenho sido muito amigo dele?

BAHIGE FADEL

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