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O Rei do Mundo: O Maior Canalha de Todos

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Mateus Conte
Especial para o Cidade Botucatu

Foi apresentada no último sábado (17) a comédia O Rei do Mundo, protagonizada por Eduardo Sterblitch, num Teatro Municipal lotado. O elenco é composto também por Louise D`Tuani, Diego Becker, Claudinei Brandão e Thiago Brianti.

A peça conta a história de Pedro Peregrino (Eduardo Sterblitch), desde sua infância até a velhice, um homem mentiroso, irresponsável, egoísta e sem escrúpulos. Seu maior desejo é tornar-se rico e poderoso, estando disposto a passar por cima de tudo e todos para alcançar seu objetivo: ser o rei do mundo. Durante todo o caminho, Pedro Peregrino se encontra com cenas e personagens sobrenaturais, que o ajudam a descobrir seu estranho destino. A peça é uma livre adaptação do clássico Peer Gynt, do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen.

O texto é uma imensa alegoria religiosa, à la Gil Vicente, mas bem mais sutil. Pedro nunca foi honesto, mas sempre foi ambicioso: ao deixar sua casa e sua mãe com o objetivo de se tornar o rei do mundo, Pedro encontrou-se com a maldade e com o Diabo, que o ensina seu modo de viver: o egoísmo. Isso é o que move o protagonista por quase toda a trama.

A “narração” da história, feita por um anjo, é um dos pontos interessantes do texto, sendo colocado nos momentos certos para aliviar a tensão do público. Aliás, tensão é o que não falta: apesar de ser uma comédia, os momentos de tensão e reflexão permeiam toda a peça, sem deixar de ser um texto de humor. Essa é a primeira comédia do diretor Roberto Alvim, que já conta com 27 anos de carreira e mais de 100 espetáculos.

A passagem do tempo é bem sutil, parecendo até mesmo um texto anacrônico: não é. A cada cena que se passa, um momento da história mundial é retratado, todos mostrando como Pedro agiu em cada um deles. Sterblitch honra o seu personagem, com uma atuação primorosa.

O final “divino” da peça retoma o seu início, narrado pelo anjo: uma vida toda esperando por algo que só dependia de você realizar.

Após o fim da peça, Sterblitch diz “vão para casa” e sai do palco. Esta súplica não nos pede somente que voltemos às nossas casas ao fim da peça, mas sim que voltemos à nossa família, à nossa mãe; coisas que Pedro não fez ao longo de sua vida.

Por fim, O Rei do Mundo é uma peça genial, alegórica e metafórica, muito profunda e “cabeça”, mas diverte muito também aqueles que não buscam sentido nas obras e assistem apenas por diversão.

Eduardo Sterblitch e companhia, voltem sempre!

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SÓ PARA ESCLARECER, artigo de Bahige Fadel

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Falar corretamente não é frescura. Não é esnobismo. Falar corretamente tem vários objetivos. Um deles é respeitar o idioma com o qual você se expressa. Outro objetivo é preservar a língua. Se todos falassem do jeito que quisessem, um dia (muito distante), não teríamos mais línguas. Teríamos uma infinidade de dialetos, o que dificultaria a comunicação fora daquele grupo do dialeto.

Pois bem. Disseram-me que era frescura esse negócio do verbo HAVER, com o sentido de existir, ocorrer. Só que não é frescura. É o respeito às normas da língua portuguesa. Vamos esclarecer. O verbo haver, com o sentido de existir, ocorrer, é IMPESSOAL. O que quer dizer isso? Ele não tem as pessoas do discurso: primeira, segunda e terceira pessoas do singular e do plural.

Essas pessoas, sintaticamente, funcionam como sujeito da oração. E o verbo concorda com o sujeito (com a pessoa). Se o verbo HAVER, com o sentido de existir, ocorrer, não tem pessoa, não tem sujeito. Assim, não tem com quem concordar. Por isso, deverá ficar sempre na terceira pessoa do singular. Exemplo: HOUVE uma prisão; HOUVE várias prisões. Não importa se PRISÃO está no singular ou no plural. pois não é sujeito de HAVER. É objeto direto. Você se lembra de quando aprendeu objeto direto?

E se eu trocar o verbo HAVER por existir, ocorrer? Aí a história é outra. O verbo HAVER é impessoal; o verbo EXISTIR (ou OCORRER), não. Para facilitar, a gente poderia memorizar uma frase simples: Objeto direto do verbo HAVER é sujeito de existir (ocorrer). Então, quando eu falo ‘Ocorreu uma prisão’, o verbo está no singular, porque o sujeito (prisão) está no singular. Se eu passar para ‘prisões’, o verbo deverá ir para o plural, porque o verbo concorda com o sujeito: ‘Ocorreram várias prisões.’

‘Havia vários leões, no zoológico.’ – oração sem sujeito; vários leões = objeto direto

‘Existiam vários leões, no zoológico.’ – vários leões = sujeito (verbo concordando com o sujeito)

BAHIGE FADEL

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MEUS DESEJOS, artigo de Bahige Fadel

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Hoje, eu quero desejar a todos um feliz Natal e um ano novo com mais soluções e menos problemas.

Reafirmo que meus votos são para todos. Todos mesmo. Não apenas para aqueles que procuraram ser bons cidadãos, cumprindo com suas obrigações. Não apenas para aqueles que procuraram ser bons profissionais, aprimorando-se em suas atividades, para poderem ser sempre melhores. Não apenas para aqueles que foram bons filhos, procurando realizar suas funções como filhos, fazendo as tarefas mínimas que lhes são atribuídas, cumprindo com suas atividades escolares e evitando maiores problemas aos pais. Não apenas para os pais, que souberam como educar os seus filhos, dando-se amor e exigindo responsabilidades. Se com tudo isso, puderam ainda ser amigos de seus filhos, melhor ainda. Não apenas para os políticos que utilizaram seus cargos e funções para melhorar a vida dos cidadãos, que cumpriram ou, pelo menos, procuraram cumprir com suas promessas de campanha. Não apenas para as mães que deram conta de suas funções de mães, não terceirizando a educação de seus filhos, mas que, apesar das múltiplas funções que tiveram que desempenhar, não abriram mão de sua condição de mães. Não apenas para o patrão que procurou estimular seus empregados, reconhecendo o seu valor e aceitando suas dificuldades, procurando apoiá-los, para que pudessem se desenvolver em suas atividades profissionais. Não apenas para os empregados que trabalharam com dedicação, competência e honestidade, valorizando o seu trabalho e a empresa de que fazem parte.

Desejar um feliz Natal para essas pessoas é uma moleza. Acontece que Cristo, a principal personagem do Natal, não veio ao mundo apenas pelas pessoas boas, para presenciar a sua bondade. Veio também para socorrer os maus e fazer com que se tornassem pessoas melhores.
Assim, desejo um feliz Natal para aqueles que não foram bons cidadãos também, na esperança que, no nascimento de Cristo, vejam nascer nelas os bons sentimentos e as boas atitudes.
Desejo um feliz Natal aos profissionais que não procuraram cumprir com suas obrigações, na esperança de que passem a ter, na percepção do sacrifício de Cristo, a consciência de que estão agindo como Judas contra os vários Cristos que há no mundo.
Desejo um feliz Natal até para os políticos corruptos e incompetentes, na esperança de que se arrependam e se penitenciem, passando a agir em benefício da coletividade.

Desejo um feliz Natal também para os pais que, por comodismo e irresponsabilidade, lavaram as mãos e terceirizaram a educação de seus filhos, na esperança de que descubram a maravilha de educar e proteger seus filhos, dando-lhes condições para que sejam pessoas felizes e úteis à sociedade.

Enfim, desejo um feliz Natal e um ano novo com mais soluções e menos problemas a todos. Aos bons, na esperança de que se mantenham bons ou, até, se tornem pessoas melhores; aos não tão bons, porque é um tempo de perdão e de esperança. E eu espero, sinceramente, que o mundo seja melhor. Para que isso aconteça. é preciso que as pessoas sejam melhores. Espero que sejam.
BAHIGE FADEL

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Brasil

Artigo: A PEC dos Estupradores e a naturalização da pedofilia no Brasil

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Dra. Celeste Leite dos Santos (MP-SP)*
Numa afronta à opinião pública, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, em Brasilia-DF, aprovou Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que proíbe o aborto no Brasil até em casos previstos na lei, como o estupro, por exemplo. Tal projeto – que recebeu a alcunha de PEC dos Estupradores, não sem motivo — elimina qualquer resquício de liberdade de escolha de meninas e de mulheres, em nosso País, de serem mães quando vítimas de abusadores / agressores.
Ainda que não se tenha consenso sobre este tema em nossa sociedade, nem fatos novos que justifiquem a volta da discussão de assunto infame, após ampla rejeição popular da iniciativa, fato é que, a questão em tela é mais séria e grave do que aparenta ser.
Ocorre que, hoje, o abortamento legal é permitido em casos de estupro, de risco de vida para a gestante, bem como quando é constatada a anencefalia do feto. Com a proposta em discussão – caso siga adiante e se torne norma constitucional, o Brasil corre o risco de se equiparar a nações como Honduras, El Salvador, República Dominicana e Nicarágua, que incluem a proibição do aborto desde a concepção em suas Constituições.
Os números deste tipo de crime em nosso País são estarrecedores. O Brasil registrou, somente em 2023, um estupro a cada seis minutos – totalizando 83.898 casos, entre estupro e estupro de vulnerável, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Salta aos olhos o fato de que, 76% destas ocorrências correspondam a estupros de vulneráveis, ou seja, quando há conjunção carnal ou outro ato libidinoso com menores de 14 anos, crianças, ou incapazes de consentir o sexo, seja por deficiência, falta de entendimento ou por enfermidade.
Se aprovada a iniciativa já chancelada pela CCJ, teremos, no Brasil, inegável banalização de outra modalidade de violência: a pedofilia. De conduta negativa e repugnante, o estuprador / agressor, de pedófilo, ainda passará a se denominar “pai”, e, assim, exercer papel socialmente aprovado em nosso meio – inclusive, balizado pelos direitos e por deveres decorrentes do poder da instituição familiar.
E, não menos importante: obrigar vítimas de um estupro, ou que se encontrem em situação de perigo de vida a serem mães acarreta a revitimização de meninas e de mulheres. Além do que, forçá-las a levar uma gravidez, uma gestação indesejada adiante traz impactos psicológicos graves e, muitas vezes, irreversíveis. Isso inclui traumas adicionais ao crime cometido, estigmatização e dificuldades de integração social.
Há de se considerar, ainda, que, a criminalização do aborto em casos de estupro pode potencializar a realização de procedimentos clandestinos, resultando, consequentemente, em complicações médicas graves e até em morte.
Em síntese: o Brasil não precisa punir vítimas, mas, sim, desenvolver políticas públicas efetivas de prevenção, de apoio e de desvitimização previstas no Estatuto da Vítima (projeto de lei 3.890/2020). O texto está parado no Congresso Nacional desde maio de 2023, por falta de vontade de políticos em abraçar, discutir e aprovar a questão.
Não é possível mais que se alegue desconhecimento e ignorância face aos efeitos nefastos da PEC dos Estupradores – sinônimo de retrocesso, um absurdo jurídico e inconstitucional, uma vez que é divorciado do que prevê nossa Carta Magna.
Aliás, o Brasil é signatário de diversos tratados internacionais de proteção aos direitos reprodutivos das mulheres. Logo, qualquer tentativa de criminalizar as hipóteses de aborto legal será um verdadeiro declínio em matéria dos direitos humanos fundamentais e da dignidade de mulheres e de meninas do nosso País.
*Dra. Celeste Leite dos Santos é presidente do Instituto Brasileiro de Atenção Integral à Vítima (Pró-Vítima); promotora de Justiça em Último Grau do Colégio Recursal do Ministério Público (MP) de São Paulo; doutora em Direito Civil; mestre em Direito Penal; especialista em Interesses Difusos e Coletivos; e idealizadora do Estatuto da Vítima, da Lei de Importunação Sexual, e do Projeto Estadual 130/2016 de Igualdade Plena de Homens e Mulheres.

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