A Organização Mundial da Saúde (OMS), órgão da ONU responsável pela orientação mundial de políticas públicas de saúde, deve reconhecer o vício em videogames como uma doença mental no ano que vem. De acordo com a New Scientist, a inclusão virá como parte de uma revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID, ou ICD na sigla em inglês).
Essa será a primeira revisão do CID desde 1990. Segundo o site, os termos exatos que serão usados para definir o vício em games como doença ainda estão sendo decididos. A versão atual do texto, no entanto, inclui uma série de critérios que os médicos podem usar para determinar se os hábitos de videogame de uma pessoa se tornaram uma ameaça séria à sua saúde.
De acordo com o Newshub, esses critérios incluem a inabilidade da pessoa de controlar quanto tempo passa jogando e a atitude dela de dar prioridade aos jogos “de tal maneira que os jogos tomem precedência sobre outros interesses” da vida dela. Outro critério que os médicos deverão avaliar é se a pessoa ignora as consequências negativas que seus hábitos de jogo têm para sua vida.
Quando entrar para o CID, o vício em videogames deverá ficar na categoria “distúrbios causados por comportamento de vício” – a mesma na qual se encaixa atualmente o vício em jogos de azar. Curiosamente, o anúncio vem pouco tempo após a Europa iniciar uma investigação sobre as “loot boxes”, um recurso de alguns jogos que poderia ser considerado uma espécie de jogo de azar.
Controvérsia
Vladimir Poznyak, um médico do departamento de saúde mental e abuso de sustâncias da OMS, considerou que a medida é importante para auxiliar médicos: “profissionais da saúde precisam reconhecer que distúrbios de hábitos de videogame podem ter consequências sérias para a saúde”, disse ele à New Scientist.
No entanto, não são todos os médicos que vêem com bons olhos essa inclusão, como o IFLScience ressalta. De acordo com Allen Frances, ela pode levar ao tratamento de milhões de pessoas que na verdade não têm problema nenhum. “Bilhões de pessoas no mundo todo estão viciadas em cafeína por diversão ou para funcionar melhor, mas apenas raramente isso causa mais problema do que vale a pena”, considera.
Frances também aponta para o fato de que especialistas em doenças mentais já se negaram a incluir o vício em internet como uma doença justamente por esse motivo: milhões de pessoas poderiam acabar sendo consideradas “doentes” sem necessidade. Ao menos na Coreia do Sul, por outro lado, esses problemas já são reconhecidos e têm procedimentos adequados de tratamento.