Nos últimos dias, a mídia do Brasil está dando destaque à morte de uma torcedora do Palmeiras, vítima de uma garrafa de bebida na cabeça. Leigos e especialistas, principalmente ‘especialistas’ e donos da verdade dão suas ‘abalizadas’ opiniões. A maioria destaca a violência no futebol e oferece suas sugestões: não vender bebida alcoólica nos estádios, não vender bebida alcoólica nas proximidades dos estádios, colocar torcida de um só time, para evitar o contato entre os torcedores adversários. E qual foi o resultado dessas ‘conceituadas’ sugestões? Nenhum. Absolutamente, nenhum. E por quê? Porque, segundo esses caras, a principais culpadas pela violência no futebol são as bebidas alcoólicas e a presença das torcidas. E isso é verdade? Vamos ver.
Onde é que se manifesta mais a violência entre as pessoas? Seria entre as torcidas de futebol? O futebol mata mais do que a violência doméstica? Pai mata filho, filho mata pai, marido mata mulher, mulher mata marido… O futebol mata mais do que o ambiente das drogas? Matar para conseguir drogas, matar para ter um ponto de vender, matar porque não pagou pelas drogas… O futebol mata mais do que as baladas ou festas em ambiente noturno? Por que não sugerem a abolição das bebidas alcoólicas e drogas nesses ambientes? O futebol mata mais do que os assaltos que ocorrem nos centros das grandes cidades? Assaltos no trânsito (parar num sinal fechado é um perigo), assalto às lojas, assalto nos shoppings… O futebol mata mais do que a violência nas escolas? Quantas crianças e professores morreram em invasões a escolas em várias cidades? Nem vou falar das mortes , umas conhecidas outra s não, nos meios políticos ou com motivação política. Ficaria muito longa essa crônica.
Por que não dá certo nenhuma das sugestões para a violência em vários ambientes? Não sou um especialista, mas acredito que seja porque atacam as consequências, não as causas. A causa da morte dessa torcedora palmeirense está muito além da venda de bebidas alcoólicas nos estádios ou ao redor deles. Os violentos não precisam de uma garrafa para matar alguém. Eles matarão, desde que desejem matar. Se acharem que têm um motivo para matar, matarão. Se não há torcida adversária nos estádios, matarão ao redor dos estádios. Se não houver adversários ao redor dos estádios, matarão no metrô. Se não houver adversários no metrô, matarão em qualquer lugar. É que a violência não é questão de situação; é questão de educa&c cedil;ão, de formação, de caráter.
É aí que está o problema da violência em qualquer lugar. Na cidade de São Paulo, quando os moradores de determinada região reclamam da existência dos drogados, o prefeito transfere os viciados para outra região. Resolve o problema dos moradores de uma região – efeito, não dos drogados – causa. Transfere o problema para os moradores de outra região. E a vida continua, até que esses moradores também reclamem.
A solução para o problema da violência, em curto prazo, não existe. Não se resolve o problema da violência por decreto. Parece que as autoridades acreditam em solução simples para um problema tão complexo. Proíbo a venda de bebidas alcoólicas e acabo com a violência?
Claro que não. A bebida deixará de existir naquele lugar, mas os violentos continuarão violentos. Eles precisam acreditar que a violência não vale a pena. E isso é um trabalho demorado, cansativo, caro. Se se fizer tudo direitinho, os resultados, um dia, começarão a aparecer em conta-gotas. Mas é preciso deixar de fingir preocupação e começar a encontrar soluções permanentes.
O homem está violento. Felizmente, estar é um verbo de aspecto transitório. Se demorarem muito, o verbo vai ser mudado para ser. Se isso ocorrer, não haverá mais solução.
BAHIGE FADEL