No artigo anterior, escrevi sobre a educação. Na verdade, foi sobre a propaganda maciça que se está fazendo – com o nosso dinheiro, diga-se de passagem – para convencer a população de que a reforma do ensino médio vai dar certo, há de dar certo, tem que dar certo, é pra dar certo. Certo? Hoje continuo com a educação, mas o aspecto é outro.
Um dia desses, um conhecido, desses que adoram dizer que o passado era isso e mais aquilo, que o presente é menos isso e menos aquilo, me interpelou. Você, caro leitor, deve conhece um montão de pessoas assim. O cara me disse:
Você ainda consegue dar aulas? Eu devo ter feito uma cara de Hulk no calor da raiva. Antes que eu pudesse dizer algum impropério, por estar sendo chamado de velho e de incapaz, por linhas tortas, ele acrescentou: Não é isso que você está pensando. Não se trata de sua idade. Estou me referindo aos alunos de hoje. Eles não querem saber nada de nada, não têm educação, só querem saber de celular e outras modernidades. Deve ser um inferno. É isso que eu quero dizer. Como você consegue dar aulas assim?
Infelizmente, a concepção acima não é de uma só pessoa. Muita gente pensa assim. E é um erro do tamanho da corrupção do Brasil. Difícil medir. Essas pessoas falam dos jovens de hoje como se, na juventude, tivessem sido uns santos. Todos imaculados na juventude. Obedientes, interessados nas escolas, atentos na sala de aula, responsáveis com as suas obrigações. Coisas do Paraíso. Do éden. Pode?
Quando lhes digo que os alunos de hoje são melhores do que nós fomos quando éramos jovens, eles rodam a baiana. Dizem que eu estou louco, que a arteriosclerose está me dominando, que eu estou cego, que eu preciso ser internado num hospício. Um monte de elogios. E eu procuro não discutir. Essas pessoas não querem ouvir opiniões diferentes. Elas falam alto, para ouvirem a própria voz e se deliciarem com as próprias ideias. Então, deixo que a coisa continue.
Repito (Não sei quantas vezes já disse isso): Os alunos de hoje são tão bons quanto os alunos de ontem ou até melhores. Mais: os alunos de hoje sabem muito – entenderam? – muito mais do que os alunos do passado. No passado – dependendo do passado – a única fonte de conhecimento era a escola. Não havia televisão ou internet, poucas pessoas liam jornais, algumas pessoas iam ao cinema uma vez por semana, para assistirem ao Canal Cem, que trazia algumas notícias. E os professores – cabedais de conhecimento – não tinham, em sua grande maioria, a mínima noção do que era didática ou pedagogia. Transmitiam informações. Os alunos mais dotados aprendiam; os menos dotados eram excluídos. Era a lei da selva, a lei do mais forte.
A escola, hoje, não é mais a única fonte de saber. É apenas mais uma fonte. E não é a mais moderna. Os passadistas não se conformam com isso, e culpam o aluno. É certo isso?
BAHIGE FADEL