O Teatro Municipal recebeu nesta sexta (24) o espetáculo A Mulher de Bath, estrelado pela atriz Maitê Proença e dirigido por Amir Haddad, com tradução de José Francisco Botelho. A peça é baseada em uma história do livro Contos da Cantuária, de Geoffrey Chaucer, lançada no fim do século XIV. O espetáculo é rimado e em versos, mas a linguagem é simples e nada atrapalha na compreensão da estória.
Antes de começar, a atriz conversou um pouco com a platéia (“cada dia eu faço de um jeito”, diz) e explicou resumidamente a obra. “Era a transição da Idade Média para a Renascença, eles estavam indo das sombras para a luz. Já nós…”, reflete.
Alice, a senhora da cidade inglesa de Bath interpretada por Maitê, está em uma romaria em plena Inglaterra medieval em um grupo onde ela é a única mulher. Para passar o tempo, os romeiros contavam histórias e chegou a vez de Alice. A peça é, portanto, a história contada por ela.
A personagem não aceita a castidade antes do casamento e valoriza os próprios prazeres. Religiosa que é, já se casou com cinco homens diferentes para saciar seus desejos libidinosos e de soberania e poder – e ainda busca o sexto marido; a religião da personagem é, aliás, um ponto relevante da trama, mostrando a falsidade e hipocrisia de Alice em meio a uma sociedade religiosa. Tais pontos mostram que a personagem é uma modernista em pleno século XIV. Alice é interesseira e manipuladora, tanto no sexo quanto no dinheiro: casou-se com abastados idosos enfermos e sempre os tinha na palma da mão. Tudo isso com uma sinceridade e franqueza, com uma certa dose de ironia, que até nos faz esquecer que é uma história da própria vida contada para os desconhecidos da romaria.
O operador de som Alessandro Persan fica em cima do palco, enquanto atua pontualmente em pequenos papéis com pequenas falas; é o que torna o espetáculo um quase monólogo.
A cenografia é simples, tendo somente o necessário para o andamento da trama. O figurino, por sua vez, transmite bem o ambiente e época vividos:a elite inglesa da idade média.
A atriz não transmite muita vivacidade, mas isso se dá também pela peça ser escrita em versos, complicando um pouco a imersão. O humor também não é o ponto forte da peça, arrancando alguns (poucos) risos com piadas sobre sexo e palavrões desnecessários. Por ser um texto muito antigo, ou seja, não ter a estrutura-padrão teatral que já estamos acostumados, e também pela fala da atriz ser basicamente o único elemento da peça, ficou difícil manter uma narrativa que prendesse a atenção dos espectadores.
Apesar disso, não achei a peça ruim; a peça é suficiente para quem quer desfrutar da presença de uma atriz global em nossa cidade, com um texto histórico e atual ao mesmo tempo.
Quase no fim da peça novamente há uma conversa com a platéia, que prepara para uma nova história, ainda mais antiga que a primeira, também sobre a relação entre homens e mulheres.
Ao final da peça Maitê estava a vender o roteiro da peça e autografá-lo.
Maitê Proença, volte sempre!