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A VIOLÊNCIA NO BRASIL TEM CARA, COR E ENDEREÇO, artigo do delegado Maurício Freire

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A VIOLÊNCIA NO BRASIL TEM CARA, COR E ENDEREÇO

No Brasil, a violência é um fenômeno histórico que persiste em todos os arranjos sociais, mesmo após diversas mudanças políticas.

O violência vem crescendo desde a década de 70. O auge na taxa de homicídios ocorreu em 2017, quando 65.602 pessoas foram assassinadas no país, superando o patamar de 30 mortes por 100.000 habitantes.

Em 2019 dados do IPEA demonstram que a violência diminuiu, no entanto, esses dados precisam ser vistos com cautela.

Quando voltamos os dados para o número de mortes violentas, o índice passou de 6,2% para 11,7%, entre 2017 e 2019, um aumento de 88,8%.

Quando categorizamos essas mortes vemos que o maior número de homicídios  concentra-se em bairros pobres e atinge, em sua maioria, a população preta. A possibilidade de um jovem preto morrer vítima de homicídio é 23,5% maior que a de um jovem branco. A cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, cerca de 70 são negras, segundo dados do Mapa da Violência,

O perfil das vítimas de homicídios, no Brasil, é de jovens do sexo masculino, da faixa etária entre 15 e 29 anos, grupo que compôs 53,3% do total de homicídios em 2018.

Dados mais recentes do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apontam que o número de assassinatos no Brasil em 2021 foi o menor, se for levada em conta a série histórica iniciada em 2007.

Dados do Monitor da Violência, relativos ao último trimestre de 2021, apontam para uma tendência de queda ainda maior que nos meses anteriores. A redução dos assassinatos entre outubro e dezembro do ano passado foi de 14,1% em comparação com o mesmo período de 2020.Apesar da redução na violência, Brasil é o 8º país mais letal do mundo.

Em 2021, o Brasil registrou 47.503 mortes violentas intencionais, 6,5% menos do que no ano anterior, segundo o 16º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, porém, ainda é um número assustador.

O perfil das vítimas segue o mesmo de levantamentos passados: negros (77,9%), com idade entre 12 e 29 anos (50%) e do sexo masculino (91,3%). A ampla maioria das mortes (76%) foram com emprego de arma de fogo.

Isso mostra que as políticas públicas desenvolvidas para intervir nesse segmento da sociedade têm sido falhas, insuficientes ou equivocadas para mudar a realidade dessa população.

Os números mais recentes sobre homicídios dão um retrato nítido das principais vítimas da violência e isso mostra que o problema da violência no Brasil está relacionado à falência e corrupção das instituições públicas, e também a problemas relacionados à falha do sistema judiciário, que não consegue manter um sistema rígido de punição aos crimes violentos.

A pequena redução nos números de homicídios, apesar de ser uma boa notícia, está longe de fazer com que o Brasil seja um país mais seguro, com menos violência.

A violência tem solução, mas é preciso ter políticas públicas eficientes em educação, saúde e segurança e pessoas unidas as forças do bem, comprometidas em fazer isso acontecer.

Por Mauricio Freire
Delegado da Polícia Civil de São Paulo
Especialista em Segurança Pública

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