A VIOLÊNCIA
O episódio ocorrido com o candidato Bolsonaro à presidência da república me levou a esta reflexão. Ouvi muitas opiniões a respeito, desde pessoas indignadas com o fato, até pessoas revoltadas ou indiferentes ou, até, felizes. Sim, senhores, ouvi gente que à primeira notícia da facada no candidato, disse ‘quem planta colhe’.
Parece que, no mundo atual, tudo tem que ser resolvido na porrada. É um excesso de intolerância e radicalismo em todos os setores. Não é só na política que isso acontece. Até nas questões religiosas há intolerância e radicalismo, que levam as pessoas à violência. Não se aceita mais o diferente. Não se tolera mais o que não pensa igual. Não há mais a convivência dos opostos. Todos pensam que a solução está em eliminar o outro. Se não for igual a mim, não vale. Se não pensar como eu, é meu inimigo. Se age diferente de como eu ajo, está errado. Tudo é na base do não aceitar, do rejeitar, do eliminar, do dar fim ao que não interessa.
Essa violência começa cedo. Acho que ainda no ventre materno, a criança já começa a conviver com a violência e aprende que tem que ser assim mesmo, que não existe outro jeito de se resolver algum problema. Na casa, a criança vê o pai violento com a mãe, a mãe violenta com o pai, veem-se os pais violentos com os filhos e os filhos violentos com os pais. E tudo isso é ‘normal’. As pessoas não acham mais anormal a violência. A violência incorporou-se ao dia a dia das pessoas. É capaz de acharem estranho que não haja violência em algum lugar.
Olhe, caro leitor, não vou ficar falando que isso é em decorrência da falta de amor, de respeito, de compreensão, de educação. Não vou falar isso. Você já está careca de saber. Se for essa a questão, e daí? Qual é o jeito de se plantar amor, de se cultivar o respeito, de se aprimorar a compreensão, de se dar valor à educação? Fazendo discursos? Falando palavras bonitas? Se a religião se aproveita da fé para enganar as pessoas, se a educação se aproveita da ignorância e da incompetência para não exercer com eficiência a função, o que esperar? De quem esperar? Dos políticos que prometem e não cumprem? Dos privilegiados que não aceitam perder os seus privilégios? Dos lobos que se vestem com peles de cordeiros?
Numa época em que as lutas de MMA são consideradas uma arte e um esporte, como acabar com a violência? Numa época em que as pessoas vibram quando um arranca sangue do outro, como explicar que isso é um mau exemplo? Numa época em que os líderes da fé convencem ingênuos de que os que pensam de maneira diferente devem ser eliminados, o que fazer para se ter a paz? Numa época em que o mais forte quer enfraquecer ainda mais o mais fraco para ficar mais forte ainda, como convencer alguém de que a verdadeira força está em ajudar o mais fraco a fortalecer-se? Como convencer aquele imbecil de que não é por eu torcer por outro time de futebol que não posso ser seu amigo?
Será que aquele cara que desferiu uma facada no candidato acha que resolveu algum problema? Será que ele acha que fez o certo? O resultado não teria sido muito melhor se ele se propusesse a convencer um amigo, um vizinho ou um colega de trabalho a não votar naquele candidato? Sei, o cara nem pensou nisso. Na cabeça dele, a solução está na violência. E foi violento. Não foi o primeiro caso e não será – infelizmente – o último.
BAHIGE FADEL