“É correto, e mesmo necessário, que a provisão de palavras de uma língua seja aumentada no mesmo passo em que aumentam os conceitos. Em contrapartida, se aquilo acontece sem isso, trata-se apenas de um sinal de pobreza de espírito de quem gostaria de levar alguma coisa para o mercado e no entanto, como não tem nenhum pensamento novo, vem com novas palavras. Essa maneira de enriquecer a língua está agora na ordem do dia e é um sinal dos tempos. Mas novas palavas aos velhos conceitos são como uma nova cor aplicada a uma velha roupa.” (Schopenhauer – Parerga e Paralipomena, Sobre a Linuagem e as Palavras §5)
Durante meus anos na faculdade de filosofia da Federal de São Paulo, por três semestres consecutivos tive aulas com o professor de Filosofia da Renascença, Eduardo Kickhofel (para os interessados, seu site: filosofiaefilosofiasnorenascimento.wordpress.com). Em suas aulas lembro-me bem que usava muito a expressão “Claro e Distinto”. Essas duas palavras em conjunto, apesar de simples, influenciaram-me muito em pelo menos metade de minha personalidade intelectual – apesar da outra metade haver permanecido ao estilo do guerreiro
filósofo de Esparta, ie. fala misteriosa, profética e extremamente lacônica. Dependendo da área acerca da qual dissserto uma ou outra dessas metades toma-me conta. Aqui, e no assunto a ser colocado em questão, sou claro e distinto; no caso: a linguagem. Serei um pouco mais específico. Qualquer animal com um pouco mais de meio cérebro que chegou a estudar minimamente a língua portuguesa, sabe que ela é uma montanha-russa cega e manca
orbitando a toda velocidade um buraco-negro, enquanto seus passageiros tem uma crise de epilepsia. É a língua da exceções dentro de exceções, da incoerência, da falta de lógica interna e de formalizações. Pior que ela somente a lamentável língua inglesa, na qual a troca de vogais desordenada para com sua formalidade que ocorreu há quatrocentos anos, ainda assombra os anglófonos, e pior ainda aqueles que a aprendem como segunda língua. O
mesmo caminho está o português a percorrer agora, e este ensaio é acerca disso, além de uma indicação à uma solução, na qual eu mesmo estou trabalhando há uns anos; além de, obviamente, uma crítica. Crítica essa ao Escorbuto, i.e. como chamamos nossos gramáticos influentes nos assuntos internacionais da língua.
O mundo lusófono perdeu seu colágeno, alguns dirão, eu, por outro lado, di-lo-ei que nunca teve-o. No corpo humano isso é causado pela deficiência de Vitamina C, o que leva à famosa doença dos marinheiros, o Escorbuto. A ausência de colágeno no mundo lusófono não é obviamente proveniente da falta de vitamina, mas da falta de uma Alta Cultura desenvolvida. A ausência dessa Alta Cultura levou os dentes da lusofonia a entortarem e caírem, e o sagramento genitivo que agora escoa-se-nos são os gramáticos de hoje em dia que exercem poder e influência na comunidade internacional da língua, tanto aqui na República do Cobertor,-que-não-core-coisa-alguma e também do outro lado do Atlântico, no Reino dos Centavos-e-migalhas. Os lusófonos jamais desenvolveram o colágeno cultural
necessário para fazer com que sua língua fosse algo a mais, e através dos séculos permaneceu solta, sem a mão da Cultura básica para guiá-la pelas mais básicas e necessárias formalizações – dai vem a falta de regras formalizadas.
Os primos próximos também da Ibéria jamais alcançaram qualquer significância cultural, porém o espanhol teve um ou dois homens firmes para passá-la pelas estruturações básicas necessárias. Por isso, mesmo sendo línguas extremamente próximas, o espanhol não sofre da incompletude, incoerência e loucura gramatical que sofre o português. A Última Flor do Lácio cresceu abandonada, pois seu pai, o Latim, morreu quando era feto, e não teve padrinho; a maior tragédia para uma filha caçula é estar abandonada. Aqui a tragédia desenvolve-se. O Italiano é o primogênito, o independente e mais velho, já está acostumado com as durezas e a falta de atenção do pai; tornou-se responsável e aprendeu a seguir sem um guia, como faz sempre o mais velho dos filhos. Mas do Português, a língua caçula, não é possível esperar que abandonada consiga o mesmo. Depois de séculos ao vento e a chuva, apareceu hoje o Escorbuto, escorrendo-a e corroendo-a: manifestaram-se os novos gramáticos, e agora esses estragadores de papel
jorram e jorram. Disso vemos como manifestações todos esses acordos ortográficos formulados e assinados ultimamente.
A suma maioria das línguas nunca atinge uma qualidade elevada, tornando-se somente mais um dialeto nas notas de rodapé, e o Escorbuto devora-as desde o útero, como o português. Entre os Povos que se desenvolvem sua língua passa por um período de altas e belas manifestações, e somente depois em sua velhice é que, infelizmente, chega o
Escorbuto. E nesse segundo caso chega ainda mais potente, e seu processo é ainda mais triste. Roma teve uma Alta Cultura, e assim nos agraciou com o Latim Clássico, que Cicero, Vergilius e Vegetius utilizaram com tanta maestria. Depois veio o cristianismo e sangrou a gengiva dos latinos até chegarem à aberração que é o Latim Eclesiástico – e a Igreja, mantendo a tradição de ser sinônimo de doença, utiliza esse maldito dialeto até hoje de forma oficial. Os gregos tiveram uma alta cultura, onde temos mestres da língua como Simonídes e Ésquilo. Depois sangrou até virar o que é hoje. O alemão é um caso diferente e interessante, pois jamais teve como sustentação uma Alta Cultura, afinal quem não lembra-se que Napoleão quando entrou na Alemanha ficou impressionado ao encontrar um Homem
e não somente um alemão? Não, não teve-a. Sua língua superior urgiu única e exclusivamente do fato de por algum tempo haver sido a língua oficial da ciência e filosofia, e alguns poucos Grandes Homens inseridos nesse contexto, com grande esforço fizeram-na grande. Depois, porém, morreu pelas mãos dos escrevinhadores, os filósofos do Idealismo Alemão no século XIX, e desde então uma página escrita daquilo não passa de um dano a natureza por gastar a vida de uma árvore. O português não tem Alta Cultura, assim precisa de alguns grandes Homens.
Recentemente a comunidade lusófona internacional reuniu-se para debater um acordo ortográfico, com a suposta intenção de padronizar a língua. E o que fizeram? Mudaram uma regra de acentuação! Hoje o que tenho? Uma coleção de cuecas que é mais padronizada que o português. O que não tenho mais? A capacidade gráfica de ler uma vogal e saber se é alta ou baixa. Não são os Homens que a língua precisa, são apenas uns falsificadores. Aos
verdadeiros, espero conhecê-los e convencê-los a estarem a meu lado em tempo certo: quando começar a publicar meu trabalho de reconstrução. Espero que nesse caso o antigo dito funcione: construa que eles virão. E aqui eu assumo um gigantesco risco, pois ao construir algo no Brasil, batem indubitavelmente à porta, ou o cobrador de impostos, ou os “homi c’as ferramenta pra derrubá” (obviamente somente para nós mortais, para, por exemplo, a Vossa Excelência Meritíssimo Santidade Doutor Imortal da Cadeira 38 José Sarna, impostos e ferramentas não existem).
Ainda sobre a trajetória que parece-me natural às línguas tenho pontos a acrescentar. Há, pois, dois importantes estágios tardios de uma língua em decadência, os quais necessitam de explicitação. Primeiro, analogamente aos estágios do Escorbuto, ao verem a dentição do idioma entortar-se pela falta de colágeno cultural, os gramáticos começam a tentar embelezar a língua de infinitas maneiras. Todavia não possuem a razão consigo – e não
conseguem identificar o problema cultural profundo envolvido –, Mas o problema piorará meu leitor, sim, piorará. Essa primeira etapa é somente um prelúdio, um fenômeno que ocorre quando os gramáticos começam a prever no futuro a segunda etapa. Mas, assim como nas tragédias de Ésquilo, essa reação contrária acaba criando e potencializando a segunda etapa contra a qual lutavam para evitar. Qual é a segunda etapa? É a Democracia em Massa dos idiomas (que é uma analogia, para ver a crítica a Democracia em Massa per se, ver: Stirner. O Único e Sua Propriedade). É o pesadelo da democratização da cultura, que agora quer corroer a língua também. É o estagio
da grande simplificação do idioma, em volta do qual os néscios dançam atordoados pelo efeito da palavra “democracia”. Um culto mundial hoje se formou sob essa palavra, poderia colocar qualquer coisa ligada a ela que teria prontamente um exército de suicidas prontos para defender a suposta causa. “Suicídio democrático”: eis, em overdose pela palavra, prontos. “Apendicite Democrática”: ei-los novamente, bêbados pela palavra. Todavia penso
que é um termo muito adequado para descrever a situação, afinal Hitler não foi eleito por um processo democrático em um país democrático, o mesmo com Vargas? Assim como o holocausto dos judeus urgiu daquela democracia, o holocausto das línguas surge desta democracia. Há um tempo o português passou pela primeira fase, onde resolveram, por exemplo, trocar o “z” final por “s”. Marcha atualmente a todo vapor em direção à segunda fase, e os gramáticos da nova geração orgulhosos com lágrimas nos olhos acenam da plataforma com lenços brancos, terno e chapéu. Mas depois dessa fase sobra apenas o epitáfio. Começará logo a super simplificação do português, e logo os gramáticos começarão a cortá-la e queimá-la, partes inteiras da língua carbonizada, até que só sobre o suficiente para procriar, beber e votar. O desejo social para isso já existe, e as universidades públicas estão borbulhando de novos revolucionários que querem uma Flor do Lácio mais acessível a baixa camada social. Está aberto o caminho para o Escorbuto mutilar o português até o cadaverismo, para, obviamente, trazer a língua até o povo, em vez de trazer o povo até a língua. Em vez de educarem as pessoas para que possam ter acesso as maravilhas e belezas infinitas da literatura, matá-la-ão, pois é mais barato matar Dostoyevsky do que proporcionar educação para que o povo acesse-o e apreciem-no o gênio. Pois para o governo isso infla de modo barato e rápido as estatísticas, e governos vivem apenas de estatísticas e não de realidades. Mais uma vez o caminho da Cultura e dos idiomas mostra-se análogo. Resta-nos no futuro um “agente ser nada” na gramática, e um “Não ser nada/Nunca vo ser nada/Não poder quere ser nada” na poesia, afinal, pronomes e conjugações complexas são opressivas e alienam a camada baixa da população de sua língua.
Se lembra-se da citação com a qual abri esse ensaio, verá que todas essas mudanças de motivo esteticamente vazio (pois a estética que busca somente a atração visual e não a razão é vazia) de mudar o “z” por “s”, ou as letras mudas de decoração do francês, são apenas ilusões linguísticas: “novas palavas aos velhos conceitos” que apenas “são como uma nova cor aplicada a uma velha roupa”, que está na moda quando os cabeças vazias não sabem mais o que fazer com sua língua, e em vez de modificá-la para deixá-la mais eficiente em virtude dos novos conceitos da filosofia e da ciência, apenas cospem novos panos velhos para dar a impressão de novidade e espalham enfeites para a ilusão de deleza. Isso não é algo problemático para a língua falada, pois o discurso comum não está interessado o quão bem uma língua funciona em diversos e distintos ramos do discurso técnico do conhecimento; para a fala comum, o que imposta é transmitir informação comum da vida dos mamíferos, e sua vida sendo pequena, vazia e sem algo grande, qualquer língua mequetrefe serve. Desse modo, essa minha crítica não é em verdade ao discurso casual falado, pois esse é o normal e válido caminho para a vida dos mamíferos. O problema é que a língua da filosofia e da ciência não aceita esse tipo de flutuação desordenada baseada apenas em eventos sócio-culturais irracionais e passionais que não possuem razão ou intenção epistemológica por trás de si. Assim é necessário uma separação. Mais sobre essa
separação virá alguns parágrafos adiante.
Finalmente alcancei um momento neste ensaio no qual devo falar sobre como vejo e trato as línguas, para que no futuro os homens de ciência possam captar meu intelecto e com a língua trabalhar. O que é uma língua? A resposta guiará minhas palavras adiante no ensaio. Antes disso, para um pouco de contexto, explicitarei um pouco de minhas influências, para fins didáticos. Em meus anos na faculdade de filosofia, na aula de epistemologia, bem em frente ao professor, eu tive um chilique desgraçado… Certo, agora sem piada. Em meu anos da academia filosófica travei contatos que meu influenciaram profundamente, especialmente, sem nenhuma ordem específica, Tarski, Russell, Wittgenstein e Quine. Eu peço-os, leitores, que se quiserem uma melhor compreensão das bases de meu pensamento, aprofundem-se em citados autores, pois não entrarei em detalhes de minha filosofia e pensamento adiante. Disso extraio um aviso: esse próximo parágrafo será relativamente curto, e representará apenas uma pequena porção deste ensaio, é porém o mais denso e rico de todos os parágrafos você leitor tem aqui em mãos. Por isso tenha muito cuidado, pois sintetizarei anos de investigações, e milhares de páginas possíveis de escritos no próximo parágrafo, que é possivelmente o mais compactado que escrevi em minha vida.
Linguagem é um código formal para transmissão de informações, ou seja, apenas uma ferramente formal que serve para fins específicos. Eis a fórmula, e resto, o espírito verdadeiro da linguagem é pura bobagem (ver: Nietzsche, “o espírito puro é pura bobagem”). A natureza das linguagens naturais é exatamente a mesma da lógico-formais,
como a Lógica Proposicional e a Matemática, variando não em essência, mas somente em grau. Assim como o Código Morse o português é um sistema de repetições de padrões formais, que descreve e transmite informações. O fundamento desse código é única e exclusivamente seu uso, repetições de uso. Linguagem é um mero comportamento, e o uso de repetições de padrões comportamentais faz esse código. O português é insuficiente como
ferramente formal para a tarefa da filosofia e da ciência, possuido diversas falhas e incompletudes que atrapalham no processo. Uma reformulação desse código é-nos necessária. Continuando. Sou um cético semântico, isto é, descarto a existência de coisas como Semântica, Sentido e Significado como fundamentos e entidades linguísticas,julgando-os meros fantasmas sem realidade ou substância. O que fundamenta um código é uso e repetição, o que se aplica igualmente à matemática, ao Código Morse e ao português. Comecemos a tratar o português como é. Não mais permitir que suas mudanças e variações sejam determinadas pela mercê aleatória e inconsistente das massas.
O fenômeno de suas mudanças através do tempo deverá ser como o fenômeno das mudanças matemáticas. A cada séculos adicionamos novas formas e estruturas à matemática para melhorar suas qualidade necessárias de linguagem formal, ou seja, para se tornar mais eficiente em sua função de ferramenta para descrever e transmitir informações sobre o universo. Uma digressão: se quiserem uma piada interessante, entre em um departamento de
matemática e gritem “matemática é uma ferramente artificial inventada, e não algo que foi descoberto”; ps: corra, muito. Continuando. O objetivo do português é exatamente o mesmo, e assim suas mudanças e adições devem ser feitas como se faz na lógica e na matemática. Sim, lógica é uma mera linguagem. Fim da segunda digressão consecutiva. O projeto no qual estou trabalhando de reconstrução do português não deve ser tratado como
imutável, e se o fizerem significa que não entenderam coisa alguma do que escrevi. Deve sofrer mudanças e adições com o passar do tempo, tornando-o mais profundo e eficiente em descrever o universo e suas características. Espero que com os avanços da filosofia e da ciência, os Homens de ciência do futuro comecem a alterar minha reforma, para adequar o português aos novos padrões da razão e ciência, assim como os matemáticos criam novas matemáticas quando descobre-se um novo evento no universo que necessita ser descrito e quantificado. Meu projeto aqui é que o português seja um código construído para os filósofos, pensadores, poetas e literatos, uns para ter uma boa ferramenta para descrever e transmitir informações da ciência, e os outros para utilizarem essa ferramenta para
transmitirem a beleza. Novas peças deverão ser adicionados de acordo com as novas complexidades dessas tarefas. Assim como a linguagem da Lógica tornou-se mais extensiva, mais profunda e complexa com o desenvolver da filosofia analítica desde Frege, o português assim deverá se tornar com o desenvolvimento de mais altas formas de pensamento, arte e literatura.
Novamente sobre a separação da qual falei. O objetivo desse projeto é fazer do português o mesmo que foi feito com o norueguês de certo modo. Para aqueles que não possuem conhecimento acerca das línguas germânicas do norte, da-los-ei uma explicação do caso do norueguês. Atualmente na Noruega existem duas línguas, ou melhor, duas formas do norueguês, a primeira é o Nynorsk (em significa literalmente “novo norueguês”), e a segunda é o Bokmål (que significa literalmente “língua de livros”). Nynorsk é a língua falada casualmente pela população, e que foi artificialmente criada para esse uso específico pelo filólogo norueguês Ivar Aasen no século XIX, e hoje é a forma falada em discurso comum pela suma maioria da população, porém essa língua não é usada para a escrita, nem
de literatura, nem técnica e nem científica. Quando querem escrever, produzir arte como contos, romances e poesia, ou escrever teses científicas ou filosóficas, é usada a outra língua, que é distinta do Nynorsk em vários aspectos e inclusive com grande diferença na gramática normativa. Nesse caso usam o Bokmål, que é uma língua que não tem falantes nativos, sendo somente escrita a formalmente aprendida na escola depois. cujo o nome traduzido agora lhes faz sentido. Pretendo fazer o mesmo com o português, porém em vez de artificialmente criar um língua para ser a forma falada do discuso comum e casual, como fez Aasen, podemos continuar com o atual português sendo a língua falada casual, e criarei artificialmente uma nova língua para servir como a língua da literatura e da ciência. Como
disse, não vejo diferença entre línguas naturais e línguas formais, e assim como é necessário alterar racional e cuidadosamente as línguas formais para melhorar sua capacidade de descrever o mundo, farei o mesmo com esse meu novo português. Assim como quando é necessário modificar a matemática, e como disse Schopenhauer com a citação com a qual abri esse ensaio, o português hoje é uma ferramente muito pobre para a filosofia e para a
arte, que falha em muitas áreas, e novas palavras devem ser criadas para suprir essas necessidades. Quem duvida disso, leia um texto próprio de filosofia, verá que é uma mistura de diversas línguas, pois a nossa é incapaz de propriamente expressar e investigar vários conceitos da filosofia e da ciência. Explicado-lhes está o motivo de teses de doutorado de filosofia serem uma mistura de português alemão, grego e latim. Lembro-me de minha
primeira aula sobre a Metafísica de Aristóteles, começou com meia hora de explicação de conjugação verbal do grego antigo, pois a o argumento da primeira sentença do livro tem como centro uma forma verbal que não existe no português. Então, sim, algumas línguas são superiores a outras em certos pontos, pois são meras ferramentas. Línguas diferentes consegue expressar e investigar conceitos diferentes, e expressar argumentos e pensamentos
específicos, como no caso de Aristóteles cujo argumento era preciso ser escrito em grego, pois nenhuma forma verbal nossa consegue dizer a mesma coisa que foi dita em grego. O português é eficiente em alguns pontos, o grego em outros, e o alemão em outros nos quais cada uma das outras falha. Por isso estou usando diversas línguas nessa reconstrução: o grego possui características interessantes, então dele pego-as, pego também outras do alemão, outras do latim, outras do japonês, outras do inglês, toda essa junção para resolver esse único problema. Venho, então, com esse projeto do nosso próprio Bokmål. Pois, voltando a citação do velho e ranzinza professor, quando uma língua se torna insuficiente, é obrigação nossa mudá-la para ser capaz de descrever e expressar os novos conceitos da filosofia, arte e ciência, e isso farei com o Português-de-Livro. É exatamente por isso, que essa nova língua não é imutável, nem perto disso; deverá ser constantemente modificada, assim como eu e Schopenhauer escrevemos, mas não mais modificada como são modificadas as línguas naturais, pela vontade irracional e sem controle dos movimentos sem razão dos mamíferos que falam-na. Mas sim modificada e expandida constante e
sistematicamente como fazem com a matemática, criando e polindo conceitos e funções gramaticais com a intenção racional de melhorar sua capacidade como ferramente formal da filosofia ciência e arte.
Para terminar-me nesse curto ensaio, um pouco acerca de alguns aspectos dessa empreitada hercúlea a qual propus-me. Para essa reforma estou me baseando em diversas características diferentes de diversas línguas diferentes, como já enunciado, primando por coisas que satisfarão o metaobjetivo exposto anteriormente. Estou resgatando inúmeras
características e formas do latim clássico, do grego antigo e do alemão dos filósofos, e até mesmo do japonês que estudei com muito carinho e dedicação em minha adolescência, coisas essas que não existem no atual português banguelo. Além disso uma completa reformulação ortográfica, inspirada na coerência das linguagens lógicas. E por último uma reforma fonética, mesclando o belo fonético que o português já possui, com o belo da fonética do latim clássico. Está lançada minha crítica e análise das línguas nesse ensaio, e lançados também os pilares de minha reconstrução, que na falta de uma Alta Cultura lusófona, espero que atraia ou crie Homens de ciência e coragem.
S.S.
Botucatu, 2017.
Sobre o autor:
Marcelo Skjöldur Svarturskikkjan Rafanelli Rosatti é graduado em Filosofia e Lógica pela Universidade Federal de São Paulo, e cursa Biomedicina na UNESP.