Bahige Fadel

CAMPANHA POLÍTICA – Crônica de Bahige Fadel

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CAMPANHA POLÍTICA

Bahige Fadel

Um dia desses, liguei o rádio de meu carro e, durante o curto trajeto até minha casa, fiquei ouvindo. Um candidato de oposição ao governo do estado de São Paulo estava concedendo uma entrevista a um repórter de Botucatu. Depois de alguns segundos, não sabia se ria, se ficava com raiva ou se desligava o rádio, para não ouvir mais nada. Peguei o tal candidato dizendo mais ou menos o seguinte: Acho que o eleitor paulista não vai votar no candidato tal, cujo bisavô era uma escravocrata. Juro que é verdade. A alegação do candidato opositor foi essa. A gente não deve votar em determinado candidato ao governo do estado de São Paulo, porque o bisavô dele era escravocrata. Pode?

O estado de São Paulo, embora seja o mais rico do Brasil, não passa por uma situação muito favorável. Não chega ao ponto de estar na miséria total em que se encontra, por exemplo, o Rio de Janeiro. Não passa sequer por dificuldades semelhantes às do Rio Grande do Sul. Assim mesmo, a situação não é boa. Embora os funcionários não tenham sofrido atrasos nos pagamentos dos seus salários – isso aconteceu em vários estados da federação – , a defasagem salarial é muito grande. Não tem havido reposição salarial suficiente para que as pessoas possam enfrentar, sem perdas no padrão de vida, a inflação que tem persistido. O desemprego no estado também é muito preocupante. Os investimentos em educação não têm trazido os resultados que se desejam. A saúde pública não é das mais eficientes. Tudo isso qualquer paulista mais ou menos bem informado conhece. Naturalmente que o eleitor quer saber dos candidatos ao governo quais são as alternativas para se solucionarem esses problemas e para que a população possa ter uma vida menos sofrida.

E o que é que faz o tal candidato oposicionista durante a entrevista? Mostra algum programa de governo que privilegie os itens abordados? Mostra alguma solução para algum problema existente? De jeito nenhum! Fala para os ouvintes que não se deve votar em determinado candidato porque o bisavô dele era escravocrata. É o fim da picada! Será que ele acha que ganhará votos das pessoas que são contra a escravidão? Será que ele acha estar convencendo o eleitorado de que se o bisavô do candidato foi contra a abolição dos escravos o candidato atual vai fazer campanha para o retorno da escravidão no Brasil? Porca miséria, será que ainda há gente tão pequena que só seja capaz de pensar nesse nível? Ou será que esse candidato oposicionista acredita que o eleitor paulista é tão ignorante que vai acreditar nos besteiróis irracionais que ele profere?

Chega! Que os candidatos aproveitem o período de campanha eleitoral para esclarecer o eleitorado, para tornar o eleitor brasileiro mais consciente de sua responsabilidade. Vamos extirpar essa demagogia nojenta que deseduca e não esclarece.

BAHIGE FADEL

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