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Comedores Compulsivos Anônimos inicia grupo de apoio no RJ

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Lidar com uma compulsão não é tarefa das mais fáceis. Pior ainda quando o objeto da obsessão é o que mantém você vivo. Este é o dilema enfrentado pelos Comedores Compulsivos Anônimos do Brasil, que inaugurou um grupo de apoio na Paróquia dos Santos Anjos, no Leblon. Eles também realizam reuniões frequentes no Flamengo, no Centro e em outras regiões do Rio.

Entre as histórias dos membros é possível notar padrões que se repetem: problemas na manutenção do peso, sentimento de culpa após as refeições, farras alimentares constantes e acusações de amigos e familiares relacionadas à falta de força de vontade para seguir a dieta. Por isso, entre as pessoas que se descobrem comedoras compulsivas também existem casos de pacientes que se tratam para combater a bulimia, a anorexia e até os que já passaram pela cirurgia bariátrica. Enredos que se encontram e se repetem nas rodas de conversa franca, sem margem para julgamento. É nesta acolhida que as pessoas com compulsão alimentar encontram forças para entender a raiz do problema e praticar a abstinência dos alimentos que desencadeiam, caso a caso, a vontade descontrolada de comer, praticando o “um dia de cada vez”.

O questionário feito para ajudar a identificar quem tem o padrão obsessivo é composto por 15 perguntas. Entre elas estão: “Eu como quando não estou com fome ou deixo de comer quando meu corpo necessita se nutrir?”; “Quando minhas emoções estão intensas — sejam positivas ou negativas — eu me vejo procurando por comida?”; “Como sensatamente na frente de outras pessoas e desconto depois, quando estou sozinho?”; e “Passo muito tempo pensando em comida, discutindo comigo mesmo sobre se comerei e o que comerei, planejando a próxima dieta ou cura através de exercícios físicos ou contando calorias?”.

Responder sim a estas e às demais perguntas são forte indicativo de que há um problema na forma como a pessoa se relaciona com a comida. Mas só ela pode decidir se é uma comedora compulsiva ou não.

X., de 64 anos, e membro da irmandade há 16, faz questão de frisar que o CCA não é um clube de dieta.

— Nós temos uma doença que atinge três níveis: o físico, o emocional e o espiritual. Aqui, temos a chance de compartilhar nossa experiência, de nos identificar no relato do outro e também de mostrar a alegria da recuperação — conta ela.

Por isso, o grupo não fornece sugestões de dietas, planos alimentares ou tratamentos médicos. Os interessados em aprender mais sobre nutrição são encorajados a procurar orientação profissional. Ali, no espaço da irmandade, que segue programa baseado nos princípios dos Alcoólicos Anônimos, o local é o da aceitação incondicional.

O tratamento em 12 passos para a recuperação nos três níveis (físico, emocional e espiritual) não tem abordagem religiosa. O viés limitaria o enfrentamento da obsessão, que nem sempre é compreendida pela família dos que têm a doença.

— A compulsão não é caracterizada só pela ingestão exagerada de alimentos, mas também por certos hábitos alimentares. É comer comida mesmo fria ou muito quente, é pegar alimento do chão. É ir no aniversário de criança e levar docinho dizendo que é para o seu filho e quando chega em casa quem come é você — exemplifica W., de 55 anos, que acrescenta: — É difícil para a família entender. O meu marido, por exemplo, não segurou a onda. Estamos em processo de separação. Ele vivia se queixando que nós saíamos e eu não comia nada. Justamente por evitar comer os alimentos que, se eu começasse a ingerir, não ia conseguir parar.

Fonte: O Globo

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