Olhem em que estado deixaram o Brasil. Estamos, praticamente, entre o brejo e o lamaçal, entre a cruz e a espada, entre o roto e o amaçado, entre o nunca mais e o jamais, entre o podre e o fedido, entre perder e ser derrotado, entre o diabo e o satanás, entre a loucura e a insanidade, entre o pode ser e o talvez, entre nada e coisa nenhuma, entre Deus-me-livre e Deus-me-acuda, entre morrer envenenado e morrer sufocado, entre o safado e o desonesto, entre o terremoto e o tsunami, entre o não-sei e o não-fui-eu.
Deixaram o Brasil desse jeito. E foi um trabalho demorado, meticuloso. Não é fácil estragar um país do jeito como fizeram. Começaram devagar devagarinho, que nem o Martinho da Vila. A gente nem percebia direito. Uns até se riam, quando sabiam de alguma coisa ruim. ‘No Brasil, é assim mesmo’, diziam. E foram deixando acontecer. Um roubinho aqui, um beneficiozinho ilegal ali, e a vaca foi atolando no brejo. As pessoas viam e diziam: A vaca é forte, vai se safar dessa. Começaram a roubar mais, a beneficiar os que não mereciam ser beneficiados e a desprezar os que deveriam ser assistidos. E a vaca indo para o brejo. O povo olhava a pobre vaca e dizia: Está feia a coisa. Será que ela consegue safar-se do atoleiro? Mas não fazia nada para ajudá-la. Foi deixando que ela se safasse sozinha. Depois, grandes roubos. Afinal, era muito grande a equipe de ladrões e, se um ficar insatisfeito, bota a boca no trombone e acaba com o sossego de todos. Depois, grandes benefícios para os que não mereciam ser beneficiados e abandono total para aqueles que precisavam dos benefícios. Afinal, é muita gente pra mamar na mesma teta. Por mais leite que a vaca tenha, um dia acaba. E a vaca, coitada, além de não ter mais leite algum, agora está definitivamente atolada no brejo. E as pessoas olham e pensam: Não tem mais jeito. E não fazem nada para que a situação mude.
Daí vai chegar a eleição. É festa para alguns e desânimo para outros. Para os que festejam, é a certeza de que quanto mais a vaca estiver entalada no brejo, melhor será a situação para eles, pois continuarão apoderando-se do nosso dinheiro e de nossas esperanças. Para os desanimados, é a falta de vontade de fazer algo que mude a situação. É a turma do não-tem-jeito, é-assim-mesmo, não-vai-mudar, sempre-foi-assim, no-Brasil-nunca-foi-diferente, é-tudo-farinha-do-mesmo-saco, se-correr-o-bicho-pega, se-parar-o-bicho-come. Com isso, vão oferecer-se para a eleição: aquele que já foi e não deu certo, o ilustre desconhecido, o homem do povo para o povo, o messias que veio para salvar a humanidade, aquele que faltava para resolver os problemas do país, o Eeeeimael, um democrata cristão. Um monte de gente. Todos eles já tiveram a sua chance, e nada fizeram. Querem uma nova oportunidade para continuarem não fazendo.
Bahige Fadel
Caramba! Estou muito pessimista hoje. Olhem em que estado me deixaram. Mas ainda estou esperando por uma pessoa que consiga me convencer de que é o candidato certo para mudar alguma coisa… para melhor, é claro. Porque para mudar para pior, está assim de gente.