Há coisas que, apesar da idade e dos estudos, não consigo entender. Elas fogem completamente à lógica. Não há fórmula matemática ou filosófica, se é que existem fórmulas filosóficas, que resolvam essa questão. Quando a gente pensa sobre elas, só consegue dizer: Não pode ser!
Vou explicar. O ex-presidente Lula, como se sabe, foi condenado pela segunda vez. Isso não é novidade para ninguém. Ainda cabem alguns recursos, mas, pelo andar da carruagem, logo receberá, para a alegria de uns e desespero de outros, a condenação definitiva. Mas não é essa a questão que me intriga. Recentemente, o jornal Folha de São Paulo publicou uma prévia eleitoral. E qual foi o resultado? É bom destacar que a pesquisa foi feita depois das duas condenações. Em todos os quadros possíveis, o condenado ex-presidente venceria as eleições presidenciais, no segundo turno.
Vamos tentar entender essa questão. O homem, até provas em contrário, cometeu um crime, no exercício de seu mandato. Em dois momentos já foi condenado pela justiça. Seus homens de confiança já foram condenados anteriormente. Isso não é verdade? Claro que é. Assim mesmo, os brasileiros votariam nele para voltar a ser presidente, cargo do qual se utilizou para cometer os crimes detectados pela justiça e pelos quais já foi condenado. Por quê? – essa é a pergunta. Por que um eleitor votaria num homem condenado pela justiça, para ser a maior autoridade do país? Há algumas possibilidades, mas nenhuma delas é definitiva:
Os brasileiros não acreditam na justiça; acreditam no Lula. Se o Lula disse que não cometeu nenhum crime, não importa o que a justiça descobriu. O que vale é a palavra do Lula. Em qualquer situação, o Moro está errado e o Lula está certo. Isso pode ocorrer em vários casos. A idolatria é um deles, a loucura é outro. Para essas pessoas, se o Lula falou que o tríplex não é dele, não é. Não importam as provas. Se o Lula disse que lhe pagavam trezentos mil reais por uma palestra sobre educação, sem segundas intenções, essa passa a ser a verdade. Não importa que os maiores especialistas em educação digam que nunca receberam sequer um décimo dessa importância para palestrarem sobre o assunto.
Outra possibilidade é a descrença do eleitor. Ele, apesar de reconhecer os deslizes do ex-presidente, não vê, entre os candidatos possíveis, alternativa melhor. Além disso, não tem disposição de procurar uma alternativa melhor. Para esse tipo de eleitor, não importa que ele tenha roubado. Todos roubam! – pensa esse eleitor. Não importa se é verdade essa afirmação. Pensar sobre a veracidade dela cansa muito. Então, ele aceita a afirmação e vota no Lula.
Uma terceira possibilidade é que existem pessoas que querem ver o circo pegar fogo. Vamos ver no que dá! – pensam. Querem ver confusão. Como agirão as forças internacionais, se o Lula for reeleito? O que fará o exército? Sempre existirão os apocalípticos que profetizarão uma ação violenta do exército nacional, ‘para impedir a instalação do comunismo no Brasil’.
Outros votam nele para não perderem a bolsa-família. Outros votam nele porque é o mais conhecido. Outros votam nele porque não estudou, então é do povo. Outros votam nele porque já votaram nele anteriormente. Outros votam nele por interesses partidários. Outros votam nele porque… votam nele. E, finalmente, outros votam nele porque o acham o melhor e o mais honesto de todos.