FESTA
Ano de eleições é uma festa. E essa festa dura trezentos e sessenta e cinco dias. É uma festa de loucos. Vale tudo. Vale mentir pro padre no confessionário. Vale comungar em pecado. Vale mentir para a mãe. Vale fazer cambalhota no meio da rua. Vale roubar fruta da jabuticabeira do vizinho. É um verdadeiro pandemônio. E a gente tem que assistir a tudo isso, sem direito a reclamar. Afinal, reclamar para quem? Para o vigário? O vigário vai estar na festa. Para o prefeito? O prefeito vai estar na festa também. Para o diabo? E alguém acha que o diabo vai querer perder uma boca livre dessas? Para Deus? Por favor, não vamos meter Deus nessa confusão. Vamos começar a resolver nossos problemas terrenos aqui na terra, sem incomodar a Deus, que não tem nenhuma culpa no cartório. Não foi a gente mesmo que aprontou essa confusão toda? Então, é nossa obrigação desaprontá-la. Não vamos jogar nas costas de Deus toda titica que expelimos.
É o seguinte: acabou a paz. Se é que houve alguma paz para os brasileiros. Vamos ter que suportar as bobagens políticas, as mentiras políticas, as promessas políticas, as caras de pau políticas, as ‘espertezas’ políticas, os outdoors políticos, os abraços políticos, os sorrisos políticos, as aparições políticas, as declarações de amor políticas. Um saco! Vai ser um vale tudo insuportável. Pode aprontar os seus ouvidos, meu amigo. Se não quiser ouvir, vai ter que colocar um tapa-ouvidos. E se não quiser ver, é só desligar o aparelho de TV. Melhor. Ao invés de ficar suportando os melodramas políticos, você pode colocar sua leitura em dia. Afinal de contas, há quanto tempo você não lê um bom livro?
Mas se quiser ver e ouvir o show de horrores, então não reclame. Prepare-se para as grandes declarações. ‘Nasci pobre, continuo pobre e não pretendo enriquecer com a política.’ Nessas horas, ninguém quer enriquecer com a política. Assim mesmo, muitos enriquecem. ‘Meu amigo, você me conhece…’ A gente nunca viu o cara mais gordo, mas ele afirma que eu o conheço. Devo estar com arteriosclerose. ‘Tenho as mãos limpas.’ Que bom. É um político asseado. Quando aos bolsos e/ou as contas bancárias dele e da família, ninguém fala nada. ‘Minha vida é um livro aberto.’ Resta saber em que página. Bom saber também o nome do livro. ‘Não estou sendo investigado pela lava-jato.’ Essa vai ser de arrebentar. Vai estar no currículo de todos os candidatos. Antes, o cara fazia questão de dizer que era honesto. Agora, a moda vai ser que não está sendo julgado pela lava-jato. O Moro vai ser mais citado – a favor e contra – do que versículo bíblico em sermão de igreja. ‘Se eleito, vou acabar com os corruptos.” Pois é, muitos vão ter que cometer suicídio, se quiserem cumprir a promessa.
Será que vai ser assim mesmo, ou a campanha política, neste ano, nos reserva uma surpresa? Acho que não. Há muito tempo deixei de acreditar em papai Noel e em fada madrinha.
BAHIGE FADEL