Era uma vez, uma família muito feliz. Um nível econômico muito bom. Pai, mãe, filho e filha viviam num lugar agradável, que oferecia o provento de todas as necessidades e prazeres. Bons amigos, bom trabalho e boas escolas. Os quatro não queriam outra vida. Viviam num verdadeiro paraíso. Era só não caírem na tentação de morderem a maçã. O pai era o Brasil da Silva. Um verdadeiro líder da felicidade familiar. A mãe era a senhora Brasília da Silva. Quando nasceu, era vista como uma mulher maravilhosa, capaz de grandes virtudes. Adulta, era o coração do Brasil e o apoio fundamental para seus queridos filhos. O menino era o Senado da Silva e a menina, a Câmara da Silva.
Bahige Fadel é professor aposentado.
Diz o ditado que tudo que é bom dura pouco. E foi o que aconteceu com a família Silva. O Brasil, por motivos econômicos, perdeu o emprego que lhe dava o sustento da família e os prazeres aos quais todos se acostumaram: viagens, festas, roupas de marca. Com a perda do emprego do Brasil, a família não podia mais esbanjar. Aos poucos, o dinheiro foi acabando. Quando o Brasil percebeu, já não tinham mais nada, além de dívidas, para tentar manter o mesmo padrão de antes.
Foi quando o Brasil da Silva resolveu tomar uma atitude drástica. Reuniu-se com a família e expôs o plano. ‘Vamos precisar cortar algumas despesas, até que a situação melhore, até que eu consiga arranjar um novo emprego. Já tenho um plano, que colocarei em prática imediatamente.’ Como não havia alternativa – era aceitar ou morrer de fome -, a família aceitou e, até, prometeu colaborar.
A primeira coisa que Brasil da Silva fez foi reduzir as mesadas de Senado e Câmara, além de eliminar as dispendiosas baladas e festinhas. Os filhos se revoltaram. Como? Não há vida sem baladas. Não há felicidade sem festinhas, se as festinhas acabarem, os amigos desaparecerão. O pai tentou explicar que amigos que desaparecem quando as festas se acabam não são amigos, são apenas oportunistas. Mas a maior revolta dos filhos do Brasil foi quando ele cortou parte das despesas com os celulares. O pai quer que a gente volte para a idade das pedras! – gritavam coléricos. Senado e Câmara ameaçaram até fazer uma greve de fome, para que o pai não cometesse ‘aqueles absurdos’.
A esposa Brasília, no início, concordou com o marido. Era preciso mudar o padrão de vida, para que a vida pudesse continuar. Mas o apoio durou pouco. Durou até que o marido disse que passariam a morar numa casa mais simples, para que pudessem economizar, e que as caras e fúteis recepções às amigas deveriam terminar, pelo menos temporariamente. Brasília rodou a baiana. ‘Perder as mordomias, jamais!’ . Ninguém mexeria em seus prazeres. Virou a cara para o marido. Começou a contar às amigas todos os defeitos que ele possuía. Era um desalmado.
Foi difícil. Brasil da Silva ficou num mato sem cachorro. Difícil situação, nem a família o compreendia. Os antigos amigos começaram a chamá-lo de louco. O Brasil ficou muito triste. Só espera recuperar o afeto da família e dos amigos, quando as coisas melhorarem. Não seria fácil. Nem fácil nem rápido. Seria tão bom se existisse outra saída!