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MEUS MEDOS, artigo de Bahige Fadel

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MEUS MEDOS

Eu, como a maioria das pessoas, sempre tive meus medos. Desde criança até agora. Medos pequenos, medos maiores. Pequeno, na viagem ao Brasil, o medo do mar. Aquelas ondas gigantes, aquela agitação do navio, os enjoos. Dias e dias a fio só vendo água e tendo enjoos. E eu tinha apenas cinco anos. Meu Deus! Quando isso vai acabar? Mas acabou. Sobrevivi.

No Brasil, o medo do novo e do estranho. Tudo era novo e estranho. A língua. Como iria aprender aquela língua estranha? Somente algumas palavras parecidas, nada mais. Arroz, açúcar. Mais tarde, fiquei sabendo que o português tem várias palavras árabes. No entanto, foi mais fácil do que imaginava. Os novos amigos brasileiros ajudaram muito. Superei.

Depois, o medo da cidade grande. De Pardinho, vim para Botucatu. Na minha visão de menino de onze anos, cidade gigantesca. E sem a presença dos pais. Nas tinha que vir para estudar. Meu pai dizia que não tinha vindo ao Brasil para ter filho burro. O medo era quase insuportável, amenizado pela presença de meu irmão de treze anos de idade. Nessa época, vivi os maiores medos de minha vida. Sobrevivi.

Logo depois o medos das incertezas do futuro. O que fazer para superar as dificuldades financeiras da família? Meu medo talvez fosse menor que o medo de meus pais, apenas. Medo de tomar a decisão errada. Medo de não superar a dificuldade. É barra, amigo! E eu era apenas um adolescente. Tornar-me radialista ajudou muito em minhas decisões. Descobri qualidades que poderia utilizar em minha vida profissional.
Veio a idade adulta. Vários medos, mas em condições melhores. Afinal, um adulto com boa formação e uma família bem estruturada ajudam.

Na vida profissional, no início, o medo de não conseguir aulas suficientes para sustentar a família. Mas para quem tem a esposa que eu tenho, tudo fica mais fácil. Fomos vencendo as dificuldades, uma a uma, e superando os medos. Sacrificar alguns luxos e prazeres foi a grande virtude.

Nessa época, vieram os medos do regime militar. Eu era jornalista e professor. Duas atividades perigosas para a época. Lembro-me de quando fui ameaçado ao noticiar uma greve de estudantes. Foi terrível. Na sala de aula, todos os cuidados possíveis. Seguir as regras foi meu segredo. E as regras eram claras. Aguardar o momento oportuno para lutar pelas mudanças. Conhecer suas forças e limitações era fundamental. Nunca abrir mão da verdade e nunca enfrentar o impossível. E assim o tempo foi passando.

Veio a velhice. É inevitável. Parecia que os medos tinham ficado no passado. Fim de todos os medos, pensei. Ledo engano. Nunca imaginei que voltaria a sentir medo.

E hoje tenho muito medo de expressar minhas ideias. É um medo triste. Angustiante. Medo de dizer o que se pensa é um dos piores medos que uma pessoa pode sentir. Mas estou certo de que isso também vai passar. Como diz o dito popular: Como não há bem que sempre dure, também não há mal que nunca se acabe. Esse medo também vai passar. Disso eu tenho certeza.

BAHIGE FADEL

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