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NO MEU TEMPO, artigo de Bahige Fadel

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NO MEU TEMPO

Não é raro a gente ouvir essa expressão. E quando ouvimos, pode contar, quem falou tem mais de sessenta anos. No meu tempo… E lá vêm as diferenças entrevo antes e agora. Quando se diz isso só para mostrar as diferenças entre o que era e o que é, tudo bem.

Mas quando o objetivo é dizer que antes era melhor, já não concordo. É a mesma coisa que comparar Pelé com Maradona ou Messi, no futebol. Não dá para comparar. Os campos de jogo eram diferentes, a bola era diferente, a preparação física era diferente, os adversários eram diferentes, a estrutura do futebol era diferente. Tudo era diferente. É muito melhor dizer que cada um foi o melhor em seu tempo.

E isso acontece em outros campos. A educação, por exemplo. A do passado era melhor ou a de hoje é que é melhor? Não dá para comparar. Quando eu estava no primário, praticamente, a única informação que eu tinha sobre o mundo era o que o professor dizia. E eu não tinha meios de avaliar se aquilo era certo ou errado.

Hoje é diferente. A criança entra na escola com acesso a um monte de informações. Em alguns aspectos, o aluno tem mais acesso a informações do que o professor, que é de uma geração diferente. O aluno tende a dominar melhor a tecnologia do que o professor. Por tabela, vem outra pergunta: O professor de antes é melhor do que o de hoje? Difícil comparar.

O que se pode dizer é que os professores de antes ensinavam com o que tinham; os professores de hoje ensinam com o que têm. O que se pode dizer, com certeza, é que o professor de hoje tem que ter mais informações do que tinham os professores do passado. Mas isso também não é vantagem. Ter mais informações hoje é bem mais fácil do que era ter informações no passado. Havia coisas certas e erradas no passado; há coisas certas e erradas no presente.

A família do passado é melhor do que a família do presente? Não dá para dizer, com absoluta certeza. É diferente apenas. Parodiando Fernando Pessoa, não dá para dizer que é mais do que só diferente. As famílias do passado eram mais estáveis? Sim, eram. Mas o mundo também era mais estável. Hoje, a mulher é mais independente. Muitos filhos são mais educados por babás e por escolas do que pelos pais. No passado, as mães eram ‘do lar’ e cuidavam da educação das crianças. O pai era o provedor. Hoje, a gente torce para que os pais, quando estão com os filhos, sejam bons pais. É o máximo que se pode fazer. Ninguém pode imaginar que o mundo volte a ser como era no passado.

E a política do passado era melhor que a do presente? Não acredito. Sempre houve bons e maus políticos. Sempre houve os tais cambalachos. Sempre houve os acordos por baixo do pano. Sempre houve os corruptos. Mas sempre houve também os idealistas, os bem intencionados. É que antes era mais fácil encobrir os erros. Quando eram descobertos, viravam um escândalo. Hoje é muito mais difícil. Está todo mundo de olho em tudo. Mas também é muito mais fácil divulgar os acertos. Há muitos meios de comunicação. É só saber utilizá-los.

É o seguinte, meu amigo. Esqueça esse negócio de ficar comparando o presente com o passado. É inútil. Procure aperfeiçoar o presente, para que ele seja o melhor possível. Na política, por exemplo. Só vote naquele que tem condições de fazer algo em benefício da população. Na educação, por exemplo, procure, dentro de suas possibilidades, acompanhar as atividades de seu filho.

Na família, por exemplo, não se esqueça de que a estabilidade familiar depende de você, de sua vontade, de seu projeto de vida. Não culpe os outros. Sei que tudo isso é difícil, mas também sei que não é impossível.

BAHIGE FADEL

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