Bahige Fadel

O SAL, artigo de Bahige Fadel

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O SAL

Há alguns dias, recebi um vídeo interessante. Um comunicador afirmava que devemos ser como o sal: imperceptíveis na presença e notados na ausência. E deu como exemplo o fato de você saborear uma picanha – não é a picanha virtual do presidente eleito – assada no ponto certo. Se o sal da picanha está lá, todos falam: Que picanha saborosa! E até elogiam o churrasqueiro. Ninguém diz: Mas que sal delicioso! Se o sal está lá, valoriza a picanha, mas ninguém nota a sua presença. Mas se o churrasqueiro se esquece de colocar o sal, o que acontece? Todos reclamam: Está faltando sal. E a picanha não é saboreada, por melhor que ela seja, pois está faltando o sal.

Diz o comunicador que com as pessoas deveria ser assim também. Na presença, devemos ser imperceptíveis, mas na ausência, devem achar falta da gente.

Depois de algum tempo, comecei a ficar intrigado com a opinião do comunicador, que, aliás, cita até a bíblia: ‘Sois o sal da terra.’ Comecei a pensar que isso é apenas uma meia verdade. E a gente deve tomar muito cuidado com as meias verdades. Elas são muito perigosas. Elas podem ocultar uma grande mentira. Aliás, as meias verdades são mais perigosas do que as mentiras inteiras. As mentiras inteiras a gente logo nota e se afasta delas ou as combate com verdades inteiras. Já as meias verdades podem nos enganar. Na ilusão de que são verdades, podemos não perceber a mentira que elas incluem.

Você deve estar meio intrigado, não é, caro leitor? Pois não fique. Vou explicar. Ser imperceptível na presença quer dizer que a gente não deu uma grande mancada, mas também não fez nada de tão significativo. Quando fazemos algo importante, somos notados na presença. Se uma pessoa salva uma criança de um afogamento, o que acontece? Todos notam e admiram a pessoa que arriscou a sua vida para salvar a criança. Vamos para um exemplo mais do dia a dia. Sou professor e gostaria de ser admirado pela aula que ministro. Não quero que esperem a minha morte (ausência) para que se lembrem de mim. Outro exemplo. O Pelé, que foi o maior jogador de futebol do mundo, foi admirado enquanto marcava seus belíssimos gols. Foi na presença que ele foi notado. Notado pelos companheiros e pelos adversários. Quando ele entrava em campo, os torcedores de seu time achavam que o jogo estava ganho. Já os adversários torciam para que ele não estivesse num dia inspirado.

Hoje temos muita saudade de tudo eu ele fazia em campo.
Não quero dizer que sou totalmente contrário às ideias do vídeo. Não. Devemos ser, sim, como o sal. O sal valoriza o alimento em que se encontra. Ou prejudica. Depende da dose colocada. Isso nos leva a refletir sobre o fato de que devemos ser úteis aos outros. Devemos ajudar, não prejudicar o próximo. Mas não precisamos ser incógnitos para isso. É bom termos nosso trabalho reconhecido no momento da execução, para que sejamos estimulados a fazer mais e melhor. Isso não exclui a pessoas que praticam o bem, sem serem notadas. Tudo é válido, desde que o bem prevaleça.

BAHIGE FADEL

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