OS ESPECIALISTAS
Como existem especialistas – ou expertos – nesse mundo de Deus! É especialista pra tudo quanto é coisa. Especialistas para a vida e especialistas para a morte. Especialistas para o casamento e para a separação. Especialistas para a alegria e para a tristeza. São irritantes. Agem como se soubessem de tudo, como se existisse uma fórmula perfeita e infalível para qualquer situação. ‘Para criar bem um filho, você precisa agir…’ E lá vem a fórmula infalível.
Um dia desses, meu irmão me enviou uma mensagem sobre ser professor e me perguntou: É isso mesmo? Eu sei que ele não queria informações. Ele queria cutucar a onça com vara curta. A mensagem mostra as diferenças entre os professores, para chegar à conclusão de que o professor ideal é aquele que inspira os seus alunos. E ele me perguntou se era aquilo mesmo. Poderia dar uma fórmula para ele, do jeito como nos ensinavam na faculdade. Não dei. As fórmulas da faculdade não me serviram para muita coisa. Serviram-me para me ajudar a ser um adulto, um ser crítico. A ser professor eu aprendi na sala de aula. Eu aprendi com alunos que não estão nas fórmulas dos livros. Inspirei a alguns. Alguns alunos do ensino médio se transformaram em professores de português. Uns foram bons e devem ter inspirado outros alunos a serem professores, Outros, nem tanto.
É que não existe uma fórmula infalível para ser um professor. Se houvesse, seria uma moleza. Era só seguir a receita, e pronto. Não haveria problemas em nenhuma escola. Doce ilusão! A educação é feita por gente e para gente. E isso dificulta tudo. No início de minha vida profissional, eu tentava imitar um professor a quem eu admirava demais. Não deu certo. Depois de algum tempo, percebi que aquele estilo era bom para o meu professor, não para mim. Tive que descobrir, com ensaios e erros, o meu próprio estilo. As pessoas têm que entender que esse estilo – o meu – serve para mim. Pode ser horrível para outro professor.
Outra coisa interessante ocorre com aqueles saudosistas, que dizem que no passado é que era melhor. E lascam um monte de fórmulas do passado. Os professores faziam isso e mais aquilo. E falam como se tivessem descoberto a pólvora. Como especialistas infalíveis. Quando ouço isso, fico entre o riso e a lágrima. No riso, pelo ridículo daqueles que não percebem a diferença entre o passado e o presente; na lágrima, pelo desespero e desalento, pois as pessoas, muitas, são incapazes de entender o que é ser professor e, por isso, não dão o mínimo valor a essa profissão.
Para ser um bom professor, não existe uma fórmula, mas existem alguns elementos indispensáveis, que devem ser acrescentados às características individuais: conhecimento, técnica, dedicação, paciência, disponibilidade, amor (ao aluno e à profissão), respeito, liderança, empatia, solidariedade, felicidade (o professor tem que ser uma pessoa feliz, para poder transmitir felicidade). Deve ter faltado alguma coisa. Os especialistas conseguirão completar.
BAHIGE FADEL