OS VERDADEIROS DONOS
Esses dias, estava eu assistindo a um filme, quando uma das personagens disse uma frase: ‘Não somos donos daquilo que temos.’ Continuei a assistir ao filme, mas a frase me ficou na cabeça. Fiquei imaginando a veracidade dessas palavras. Muitas vezes a gente se orgulha de certas coisas que conquistamos, sem imaginar que, na realidade, não somos donos daquilo.
Não está entendendo? Explico. O jovem consegue ganhar do pai um celular de última geração. Fica feliz. Conta pra todo mundo. Todos os admiram por isso. O jovem não deixa o celular nem para fazer as necessidades fisiológicas. Aliás, depois do celular, as necessidades fisiológicas passaram a durar muito mais tempo. Não consegue dormir sem o celular. Não consegue fazer as refeições sem o celular. Namora mais o celular do que a própria namorada. Isso não é um problema muito grave, pois a namorada namora mais o celular dela do que ele. Não raras vezes, acorda de madrugada para dar uma olhadinha no celular. Vai ver que existe alguma novidade muito importante que ele precisa saber. Na sala de aula, finge que está prestando atenção ao que o professor está dizendo. Na realidade, meio escondido, está mexendo no celular. Se esquece onde o colocou, em alguma ocasião, fica nervoso, mal-humorado, chega até a chorar. Por isso, até no banho tem o celular bem próximo dele. Contei alguma novidade? Claro que não. Todo mundo sabe isso. E agora você deve estar perguntando: Aonde você quer chegar? Explico: O cara tem o celular, mas não é dono dele. O celular é que é o seu dono. O jovem se torna dependente do celular. O celular é que manda nele, decide as suas ações. É o celular que decide até os seus pensamentos.
Poderia dar muitos outros exemplos. Vou colocar mais um em pauta. O cara ganha milhões, fica rico, pode ter tudo para uma vida melhor e mais confortável. E o que faz o milionário? Não gasta pra nada. Tem vontade de comprar uma casa bem confortável, mas tem medo de que o dinheiro acabe. Tem vontade de comprar um carro maior e mais novo, mas não o faz. Tem medo de que o dinheiro acabe. Tem vontade de viajar para o exterior, conhecer o mundo, mas não o faz. Tem medo de que o dinheiro acabe. Tem vontade de ficar sócio de um clube, onde pode encontrar os seus amigos., mas não o faz. Tem medo de que o dinheiro acabe. Ou seja, o cara tem muito dinheiro, mas não é dono dele.
O dinheiro é que manda nele. É como se o dinheiro lhe dissesse: Não mexa em mim; eu é que mando. Com medo de perder o dinheiro que tem, não o utiliza e vive como se não tivesse dinheiro algum. Ele se esquece de que o dinheiro só tem valor quando é gasto em alguma coisa que melhore a sua vida, a sua felicidade, a sua saúde. Dinheiro guardado é só dinheiro guardado.
É importante termos bens, mas é muito mais importante sermos donos daquilo que temos. Caso contrário, aquilo que temos pode ser um mal, porque nos vicia, nos torna dependentes, não um bem, que melhore nossas vidas e nos dê mais felicidade.
BAHIGE FADEL