Adson Santos nega ter abusado e roubado 21 mulheres em SP desde 2012 e pede tratamento: ‘Acusações são falsas. Quero me curar’.
Vítimas que reconheceram o empresário Adson Muniz dos Santos, preso desde a semana passada suspeito de cometer uma série de estupros e roubos a mulhres em São Paulo, disseram ao G1 que ele mostrava fotos dele nas redes sociais ao lado de políticos, famosos, celebridades e ostentando uma vida de luxo, com carros importados e viagens pelo mundo, como uma ‘isca’ para se aproximar de quem abordava. Entre os disfarces para ganhar a confiança das vítimas, ele fingia ser produtor de TV.
O homem de 34 anos nega ter cometido os crimes. “Essas acusações, a maioria delas, são falsas”, se defendeu na segunda-feira (16). A declaração foi dada aos jornalistas na frente da delegacia onde Adson foi levado algemado (veja vídeo acima). Segundo a Polícia Civil, 21 mulheres o acusam de ter sido abusadas sexualmente e roubadas por ele desde 2012. Ele também responde por estelionato e falsidade ideológica.
No seu perfil no Instagram, o preso aparece em fotos, por exemplo, ao lado do prefeito do Rio, Marcelo Crivella, e do jornalista Celso Russomanno, ambos do Partido Republicano Brasileiro (PRB), sigla pela qual Adson conseguiu ser suplente de vereador por Jussiape, na Bahia, nas eleições de 2016.
Procurado pela reportagem, o PRB informou que decidiu pela desfiliação do empresário (leia a íntegra da nota abaixo).
Adson aparece ao lado de carro de luxo e bebida em Mônaco em seu Instagram (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal/Instagram)
Instagram
Até esta terça-feira (17), a conta continuava ativa com 100 publicações e 956 seguidores. Já a página dele no Facebook foi apagada. Nas fotografias, Adson também surge perto de outros políticos e jogadores de futebol.
Algumas vítimas abordadas por ele contaram ao G1 que, quando não era correspondido, Adson as ameaçava com uma arma de brinquedo, mostrando um distintivo, dizendo ser policial federal. Em outras ocasiões, chegava até mesmo a dizer que era amigo do preso Marcola, Marcos Willians Herbas Camacho, uma das lideranças da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) para intimidar as mulheres.
“Ele falou: ‘eu sou o Adson Muniz e sou famoso, olhe minhas fotos na internet'”, contou uma empresária de 50 anos que o reconheceu como o homem de terno que a abordou na terça-feira (10) perto de uma academia no Itaim Bibi, bairro de alto padrão de São Paulo. Como não deu bola, ela disse que ele a atacou gritando: ‘Eu também sou amigo do Marcola’. Me puxou pelo braço, me deu um beijo na bochecha e comecei a andar rápido.”
No dia 6 de outubro nos Jardins, área nobre da capital, a câmera de segurança de um estacionamento gravou a abordagem de Adson a uma motorista, que foi obrigada a fazer sexo oral e dar dinheiro ao estuprador.
Ex-vereador é reconhecido por vítimas de estupro em São Paulo
Em outra filmagem do dia 2 de outubro, Adson aparece ao lado de uma mulher em um hotel. Ele a convenceu a fazer testes para a TV, dizendo ser influente junto a famosos. Lá, ela disse que o agressor usou uma arma para obrigá-la a tirar a roupa e a estuprou.
Adson foi preso na quarta-feira (11) passada em um hotel após as vítimas divulgarem a foto dele na web. Com ele foram apreendidas uma pistola falsa e crachá com brasão da Justiça Federal e outro da TV Globo. Desde então, a 1ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), no Centro, recebe diversos telefonemas e visitas de mulheres que dizem ser vítimas dele.
Mais vítimas
Nesta terça-feira, mais cinco mulheres devem ir à DDM para reconhecer Adson por meio de um sistema que não permite que ele as veja.
Mesmo reconhecendo ser o homem que aparece nas imagens obtidas pela polícia, Adson negou ter estuprado as mulheres. “Isso não”, disse enquanto era levado para a carceragem do 77º Distrito Policial (DP), na Santa Cecília, região central, onde cumpre a prisão temporária de 30 dias.
A delegada Cristine Nascimento, da 1ª DDM, deverá indiciá-lo por diversos crimes e pedir à Justiça a decretação da prisão preventiva dele, para que fique detido até seu eventual julgamento. “Ele não pode ficar solto”, falou ela à imprensa. “É um predador sexual”.
“Meu objetivo hoje é só acabar esse pesadelo e me tratar”, afirmou Adson aos jornalistas durante uma das idas e vindas entre as delegacias, sugerindo que sofre de algum transtorno mental. “Eu também não sei o que está passando pela minha cabeça. Eu preciso de um tratamento, quero me curar”.
Nascido em Livramento de Nossa Senhora, o baiano Adson não tinha passagens criminais até então. Com o ensino médio completo e solteiro, ele pretendia ser presidente do Brasil um dia, segundo seu Instagram. Nele, o homem aparece ao lado de um carro importado e os dizeres: ‘Adson Presidente: o Brasil em primeiro lugar!’
“! Rumo a vitória !! Depois a presidência!! Com Deus e o povo tudo é possível !!!”, escreveu Adson em uma foto dele em meio à multidão em 4 de setembro do ano passado, quando concorria a uma vaga na Câmara Municipal de Vereadores de Jussiape. Ele já havia sido vereador da cidade em 2014, quando também saiu frustrado ao não conseguir se eleger deputado federal.
Fã das ideias de Donald Trump, Adson chamou de ‘amigo’ o futuro presidente dos Estados Unidos em 22 de agosto de 2015. “!!!boa sorte amigo!!! A América vai ser nossa!!! Estamos juntos amigo!!!!”.
Viagens a Mônaco e a final da NBA, hospedagens em hotéis de luxo, são outras fotos postadas por Adson. O G1 não conseguiu localizar o advogado de Adson.
Leia abaixo a nota oficial do PRB sobre a desfiliação de Adson:
São Paulo, 16 de outubro de 2017
O Partido Republicano Brasileiro (PRB) desaprova e lamenta as ações criminosas cometidas por Adson Muniz Santos, acusado de uma série de estupros em São Paulo.
Desde que tomou conhecimento do caso, o PRB São Paulo decidiu pela sua desfiliação do partido no dia 10 de outubro de 2017. Desde então, Adson Muniz não é mais filiado ao PRB, conforme consta no sistema FiliaWeb do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Segundo o presidente estadual do PRB em São Paulo, Sergio Fontellas, diante das graves acusações, o PRB não poderia ter tomado outra atitude que não fosse a de optar pelo desligamento.